PARCEIRO DE CARTOLA, ELTON MEDEIROS PARTE PARA UM MUNDO MELHOR


Morreu nesta terça-feira 3, aos 89 anos, o sambista Elton Medeiros. Ele não resistiu às complicações decorrentes de uma pneumonia. Autor de refinadas composições, o cantor e compositor lançou em 1995 um dos discos mais importantes da música brasileira, o Mais Feliz (Leblon Records).
Ele não é apenas referencial pela qualidade, mas pela diversidade e o passeio na riqueza musical do País. Caso raro na história. É um disco para ser ouvido para sempre.
O disco abre com a faixa título Mais Feliz, de Elton, Carlinhos Vergueiro e Paulo César Feital. A melodia e a letra são de uma nobreza tamanha. Trata dos velhos tempos, dos bons tempos: “O sol vestiu terno de linho e chapéu panamá / E brilhou bem mais feliz / Quando Leila Diniz foi cabocla de Yemanjá”.
A segunda música é um clássico: Recomeçar, de Elton e Paulinho da Viola. Um dos sambas mais enigmáticos de todos os tempos.

Um choro entra na terceira faixa. Trata-se de Um Tema para o Tom. Aqui se explora a capacidade de criação de melodia por Elton, com uma sutileza de quem tem controle absoluto das notas musicais.
Em seguida vem outra obra-prima, dessa vez com Délcio Carvalho. A música chama-se Quando Amanheceu. Aqui evoca-se a plenitude da sofisticação no samba.
Na sequência, Elton mostra uma parceria com Hermínio Bello de Carvalho, a Folhas no Ar. Um samba dolente. Elton toca caixa de fósforo na gravação, que segundo ele não deveria estar cheia nem vazia para afinação ideal.
A sexta faixa do disco Mais Feliz é uma parceria com Eduardo Gudin. O Melhor Caminho mostra de novo a elegância do samba.
Depois descortina-se Coração Deserto. Samba canção cortante em que Elton faz um dueto com Regina Werneck, que compôs com ele essa música. Aqui, a emoção vai à flor da pele. Se o ouvinte não entendeu a grandeza da letra e melodia, jamais entenderá a verve da música brasileira.
O disco segue com Folha Virada, uma parceria com Afonso Machado, idealizador e diretor musical desse emblemático registro fonográfico. Trata-se de um samba de primeira.
A nona faixa, A Mesma Estória, reúne na composição Elton Medeiros e Cartola. O que se poderia dizer quando se juntam dois gênios? Repita-se um trecho da música: “Preciso andar / Pra não pensar / No que passou / E não chorar / Viver em paz / E sepultar de vez a minha dor / Confiante despeço-me / Dos meus amigos e da cidade / Só voltarei quando encontrar a felicidade”.
Daí vem outro samba de grande linhagem: Última Cena, com Paulinho da Viola, um de seus grandes parceiros, que canta na gravação.
A décima primeira faixa é Virando Pó, com Ana Terra. A participação na voz dessa vez é de Patrícia Megale. Trata-se de um samba-frevo.





Adiante, Minha Confissão, letra e música de Elton Medeiros; e Improviso Brasileiro, outro choro no disco do cantor e compositor.
A penúltima música Elton canta com Sérgio Ricardo a composição de ambos chamada Por Aí Afora – um samba canção.
O disco encerra o com o antológico Quando a Maré (só do Elton Medeiros), pouquíssimo executado em rodas, mas por certo um dos 50 mais belos sambas de todos os tempos: “Não sei dizer a ninguém o que é vida ruim / Sem fazer força meu barco saiu do lugar / Fácil de viver assim / Difícil vai ser navegar / Quando a maré secar”.
O disco tem texto do inesquecível Mário Lago, que no fim diz querer ser o autor do registro fonográfico no qual fez a apresentação.
Elton Medeiros tem outros ótimos discos, integrou escola de samba, participou de grupos musicais importantes. A obra é significativa.
No entanto, o disco Mais feliz é a aula, é a síntese, é a sublimidade da nossa música. O cantor e compositor deixou esse registro inquestionável.



Fonte: Carta Capital
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Jornalista há 25 anos, com passagem em diversas editorias. Foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.