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 Em 2018 o mundo prendeu a respiração com a notícia de que um asteróide de magníficas proporções poderia cair sobre o nosso planeta.

Vindo das profundezas do espaço sideral, a imensa montanha de granito pegaria a Terra desprevenida, pois demorou muito a ser percebida pelos telescópios do sistema mundial de monitoramento de corpos celestes.

Depois veio o alívio: o asteróide aproximou-se “apenas” 1 milhão de quilômetros da Terra e se afastou, perdendo-se no espaço.

Mas o Brasil não saiu incólume. Pois nesse mesmo ano foi atingido por um asqueróide. Vindo das profundezas da alma de brasileiros, mesmo aqueles que se acham esclarecidos, o tal corpo terrestre nos atingiu e espalhou pela nossa atmosfera fragmentos e excrementos, saturando o nosso ar de partículas impuras: gases tóxicos de ódio, boatos de todos os tipos – maliciosos, tendenciosos e mentirosos – por todo o território brasileiro.

Uma imensa nuvem de atraso cobriu o nosso céu, fazendo uma sombra medieval sobre o nosso solo, trazendo a destruição da nossa natureza, das nossas árvores, envenenando as nossas águas com a mentira, a desfaçatez.

Como nada é tão ruim que não possa piorar, conforme ensina o velho Murphy, no ano de 2020 instalou-se uma pandemia causada por um vírus letal chamado coronavírus, que trouxe prejuízo para todo o mundo.

A pandemia pegou-nos no pior momento, quando estávamos tentando sobreviver ao ataque do asqueróide.

Semelhante ao desastre ecológico do asteróide que atingiu a península de Yucatán há 65 milhões de anos atrás, e associado à pandemia que ceifa as nossas vidas, esse asqueróide mergulhou o Brasil no atraso e na incerteza. Basta dizer que a educação dos nossos jovens sofreu um retrocesso de duas décadas.

Pior ainda, o asqueróide impediu que a ciência combatesse a pandemia e atuou para que ela se agravasse, pois estimulou a população a desobedecer as recomendações de higiene, as medidas necessárias para impedir o contágio.


Como se não bastasse, omitiu-se na compra de oxigênio para tratar as pessoas acometidas da doença em fase aguda e disseminou a desconfiança contra a necessidade da vacinação.

Quando viu que não podia mais conter a ciência nem sabotar ainda mais as medidas sanitárias, no momento crucial protelou a aquisição das vacinas que poderiam ter salvado dezenas de milhares de vidas.

Mas, da mesma forma que a população começa a desenvolver resistência ao vírus, com a vacina que nos traz a liberdade, embora tardia, o povo já está começando a desenvolver imunidade contra o asqueróide, como mostram os estudos mais recentes.

A luz surgiu no fim do túnel e em 2022 o asqueróide vai ser empurrado de volta para as profundezas, qualquer que seja o antídoto a ser adotado.

Deixará muitas sequelas, não resta dúvida. Mas deixará o nosso povo vacinado contra esse tipo de doença social, para nunca mais se repetir.


  • José Mário Espínola
    Cardiologista, Ex-Presidente e ex-Corregedor do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB)



Desde que assumiu o cargo, o ministro Marcelo Antonio Cartaxo Queiroga Lopes, da Saúde, vem tentando imprimir a sua marca: a marca da organização, do bom senso, da competência administrativa; enfim, a marca da ciência iluminando as trevas deixadas pelo antecessor.

Uma das maiores dificuldades do ministro Queiroga é a falta ou insuficiência de doses da vacina anti-covid, que o impede de imprimir maior velocidade à imunização dos brasileiros. Por isso,  tenta incessantemente a aquisição de vacinas, seja pela compra, seja pela sensibilização de países ricos que as tenham sobrando. A luta é imensa, o trabalho é hercúleo.

Paralelo a essas ações, o novo ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, tem feito gestões diplomáticas junto ao governo da China para garantir que não faltem vacinas para o Brasil.

Queiroga e o chanceler sabem qual é o resultado de uma vacinação rápida: a salvação do maior número de vidas possível, redução de internações por covid e da ocupação de leitos de UTI e o consequente retorno – o mais brevemente possível – das atividades laborais, favorecendo a recuperação da economia nacional.

***

O empenho do ministro da Saúde e do Itamaraty enfrenta, contudo, um inimigo secreto (ou não) dentro do próprio governo a que pertencem. Eles e todos os seus compatriotas sofrem terrivelmente com as ações de um sabotador dos esforços para salvar vidas e livrar da morte quem a covid pode matar.

Não se trata de nenhum terrorista estrangeiro, membro do Exército Islânico ou da Al Fatah. Tampouco é algum ‘comunista’, muito menos petista. E quem seria esse monstro impiedoso que está causando tanto mal à nação?

As evidências mostram ser alguém que alguns fanáticos religiosos chamam de O Messias, que deveria ter vindo para nos salvar daqueles que sabotaram o Brasil, segundo eles. É justamente a pessoa que supostos patriotas chamam de O Mito que veio salvar o Brasil.

Pois… Essa figura está solapando, destruindo, sabotando as ações que os ministros por ele nomeados vêm fazendo para salvar o maior número possível de brasileiros.

Muitos suspeitam que esse inimigo da pátria seja o próprio presidente da República. Afinal, seria inimaginável, em meio a tanto sofrimento e mortes causados pela covid, ver o ocupante do cargo mais importante do Brasil atacar precisamente o nosso maior parceiro comercial e maior fornecedor do insumo com o qual é produzida a vacina salvadora.

Mas foi exatamente o que ele fez ontem. Pela enésima vez, o mandatário pronunciou um discurso violento, virulento (adjetivo talvez mais apropriado), hidrofóbico mesmo, atacando a China.

Injustamente a China, de onde vem a maioria dos dólares de nossas divisas! Logo a China, que produz o componente farmacêutico sem o qual o Butantan, por exemplo, não encheria sequer um frasco de CoronaVac.

***

Como pode uma autoridade ser capaz de prestar tamanho desserviço à nação brasileira? Nem Freud explica, embora o problema seja psiquiátrico. Aliás, psicótico.

A única explicação para atitudes suicidas como essas, dotadas de tanta perversidade, tão impatriótica, é que figuras assim não sejam pessoas normais, como eu ou você.

Pessoas assim não são muito diferentes de alguém que tortura e mata uma criança a socos e pontapés, como teria feito aquele vereador acusado de assassinar o enteado, no Rio.

Os manicômios estão cheios de doentes mentais do tipo, portadores de diagnósticos enquadrados na Classificação Internacional de Doenças – CID 10 em F60 (Transtorno específico da personalidade), subclassificado em:

  • F60.1: Personalidade esquizóide;
  • F60.2: Personalidade dissocial;
  • F60.3: Transtorno de personalidade com instabilidade emocional;
  • F60.4: Personalidade histriônica.

No caso em tela, o nosso paciente é mais exatamente portador de transtornos da sua personalidade com instabilidade emocional, agravado por apresentar um pouco dos outros comportamentos.

Quem assim é e age inferniza a vida dos demais, as suas ações contribuem para a morte de pessoas, causando o mal a milhares de famílias. Justifica a necessidade de ser isolado da sociedade, internado num manicômio. Antes que acelere rumo a um milhão a contagem de vítimas fatais da pandemia.


  • José Mário Espínola
    Cardiologista, Ex-Presidente e ex-Corregedor do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB)

Imagens de médicos mortos pela Covid projetadas em edifícios paulistanos (Crédito: Metrópoles)

 

No início da década passada, as entidades médicas brasileiras travaram uma luta desigual no Congresso Nacional, pois até então o exercício da nossa profissão ainda não tinha sido regulamentado por lei.

Diferente das demais profissões de saúde, por descuido das gerações médicas anteriores nunca havia sido apresentado um projeto vitorioso, na Câmara Federal e no Senado, para regulamentar uma profissão tão antiga e prestigiada.

Em sua longa trajetória no Congresso, originalmente recebeu no Senado a denominação PL 268/2002, do senador Benício Sampaio, do PPB do Piauí. Após demorada evolução, foi aprovado por unanimidade no Senado e seguiu para a Câmara do Deputados, onde passou a ser denominado PL 7703/2006.

Ao longo de sete anos, o PL 7703/2006 sofreu todo tipo de agressões por parte das representações das outras 13 profissões de saúde. Tal hostilidade baseava-se em equívocos estimulados por dirigentes suspeitos que comandaram outros profissionais – dentistas, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, assistente social, biólogo, biomédico, farmacêutico, fonoaudiólogo, profissional de educação física, terapeuta ocupacional e técnico e de radiologia – numa verdadeira guerra santa contra aquilo que foi denominado Ato Médico.

Esses dirigentes das profissões citadas convenceram seus liderados que a aprovação da Lei do Ato Médico os transformaria em meros subordinados aos médicos e esses, por sua vez, limitariam as atividades daqueles profissionais.

Tamanha má vontade para com a classe médica parecia ter raízes históricas, originadas em comportamentos inadequados e arrogantes de médicos do passado.

Hoje, os tempos são outros e as novas e atuais gerações têm relações em que predomina o respeito mútuo aos outros profissionais de saúde, encarando a sua atividade como um trabalho de equipe, onde o bem comum é a saúde plena do paciente sob os seus cuidados.

Esse verdadeiro ranço encontrou eco no Congresso, todavia, mais exatamente na Câmara dos Deputados. Isso fez com que a lei atrasasse, demorando 11 anos até ser aprovada e sancionada.

Antes de ser aprovado, o projeto foi distorcido e politizado, especialmente por representantes do Partido dos Trabalhadores, com destaque para o então deputado paraibano Padre Luiz Couto, influenciado pelos representantes das outras profissões, com destaque para os psicólogos e fisioterapeutas.

Por causa disso, o projeto sofreu cortes substanciais nas prerrogativas da profissão médica. Teria sido pior, não fosse o denodo com que o seu relator, o senador paraibano Cássio Cunha Lima, defendeu a conservação do texto original, que continha definição justa das atividades exclusivas da formação do médico, que de modo algum cerceava atividades das outras profissões.

Aprovada com ressalvas na Câmara Federal, retornou ao Senado, onde foi aprovada por unanimidade. Finalmente, em 10 de julho de 2013, a então presidente Dilma Rousseff sancionou a lei, mas, mal assessorada por seu ministro, o “médico” Alexandre Padilha, vetou dispositivos essenciais do texto aprovado pelo Senado, amputando assim a Lei do Ato Médico.

Pois bem: a luta heroica e desigual das nossas entidades representativas, com destaque para o Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (AMB), foi renhida e mobilizou todos os médicos do Brasil.

Os cortes que a presidente Dilma, do Partido dos Trabalhadores, realizou na nossa Lei, e a concomitante luta da classe médica brasileira contra a aprovação da regulamentação do Projeto Mais Médicos, que escancarou as nossas fronteiras à invasão de profissionais que se diziam médicos, sem que pudesse ser realizada uma comprovação, visto que foi proibida a revalidação do diploma para esses “médicos”, fizeram com que os nossos colegas aprofundassem o seu repúdio ao PT e seus representantes.

Na eleição para presidente acontecida em 2018, sem ter bom-senso nem autocrítica, o PT lançou um candidato próprio. Isso provocou uma reação dentro da categoria médica, que compreensivelmente não havia esquecido as feridas abertas pelo Mais Médico e a Lei do Ato Médico. A eleição tornou-se, então, plebiscitária para a maioria em peso da nossa categoria. Cresceu a ojeriza ao candidato do PT, tendo os nossos médicos por maioria esmagadora abraçado qualquer um que fosse adversário do candidato do PT.

Quis o destino que um doido esfaqueasse o candidato da extrema-direita, um apagado político sem nenhum projeto expressivo na sua vida. A comoção nacional provocada pelo gesto do tresloucado, muito bem explorada pelas redes sociais que disseminam intrigas e ódio, teve o efeito de uma catapulta em sua candidatura.

Dentro da classe médica essas redes exploraram muito bem a aversão da categoria ao PT e tudo aquilo que o representasse. Essas redes souberam manipular muito bem o sentimento dos médicos brasileiros, fazendo com que contribuíssem fortemente para eleger Jair Bolsonaro presidente da República, numa eleição democrática. Até aí, tudo bem.

Em primeiro de janeiro de 2019, o cidadão tomou posse do cargo de presidente do Brasil. Foi o último ato importante por ele realizado. Pois, desde então, ele deixou de trabalhar e passou a ser um fazedor de piadas, comportando-se como um moleque adolescente no Palácio do Planalto, levando a vida sem seriedade, delegando o trabalho verdadeiro a seus ministros e ao seu vice-presidente, Hamilton Mourão.

A vida era uma festa até que o mundo mudou. E o Brasil foi assolado pela pandemia, que já ceifou a vida de mais de 200 mil brasileiros.

Em nenhum momento o presidente assumiu a liderança de ações que pudessem reduzir o impacto inevitável causado pela doença, na população e nas consequências econômicas.

Antes pelo contrário, ele sempre que pôde estimulou a desobediência às determinações das autoridades de saúde; por puro e ridículo ciúme demitiu o ministro da Saúde, que estava fazendo a coisa certa, terminando por nomear um incompetente em políticas de saúde, tão somente porque ele não lhe faz concorrência; ajudou a disseminar falsos e inócuos tratamentos, sem nenhuma comprovação científica, mobilizando recursos importantes desperdiçados na fabricação de remédios por ele eleitos como tratamento eficaz para a covid 19, e que nenhum estudo sério comprovou a sua eficácia; demorou a tomar (ou não tomou) atitudes que pudessem ajudar a reduzir o número de mortes causadas pela doença. Em resumo: negou a ciência, a lógica e estimulou o caos da ignorância, colaborando para a perda de mais de 200 mil vidas.

Ao longo dessa marcha para o desastre o que fizeram as nossas entidades de saúde? Partiram em defesa da medicina? Tomaram o partido da ciência? Nada disso. Colaboraram com a pregação da ignorância, da politização da ciência. Aplaudiram a alquimia.

Agora que o caos está instalado, cala-se num mutismo gritante, abandonando aqueles pelos quais fez o seu juramento de defesa. Deixou a classe médica e a ciência órfãs de representatividade.

Nem todos engoliram o canto de sereia do negacionismo oficial. Eis que médicos notáveis, cada um em sua respectiva época, com relevantes serviços prestados à nação e aos brasileiros que padecem, lançaram um manifesto lúcido, onde perguntaram às entidades médicas, representadas pelo Conselho Federal de Medicina:

– Onde estão vocês, que apoiaram a anticiência e a oficialização do atraso, dando as costas para a sociedade que deveriam defender? O que defendem agora?

Medicina é pura ciência. Medicina não é partido nem religião. Ao politizarem a medicina e a ciência, as entidades nacionais não representaram a totalidade da classe médica.

Eu nunca mais havia sentido que as minhas instituições de classe me representavam. Agora, sim, após tantos anos, voltei a me sentir novamente representado.
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  • A fotografia que ilustra o artigo, copiada do site Metrópoles, mostra imagens de médicos mortos pela Covid projetadas em edifícios paulistanos

  • José Mário Espínola
    Cardiologista, Ex-Presidente e ex-Corregedor do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB)