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A campanha eleitoral, especialmente no contexto de disputas majoritárias como as eleições municipais, tem se tornado um campo fértil para o uso de estratégias manipulativas e ofensivas, principalmente por parte de candidatos que adotam uma retórica extremista, típica da extrema direita. Um exemplo claro desse comportamento é visto nas atitudes do candidato Ricardo Marçal, que disputa a prefeitura de São Paulo. Suas ações e discursos ilustram táticas que não apenas desarmam seus adversários, mas também utilizam uma retórica ambígua para atacar por flancos previamente preparados com palavras amigáveis. Vou detalhar essa estratégia e explorar algumas das situações em que ela foi usada.

A Tática da Ambiguidade: Desarmar para Atacar

Uma das características centrais da estratégia de Marçal é a utilização de declarações aparentemente conciliatórias para, logo em seguida, desferir ataques diretos e calculados. Este método envolve a criação de uma falsa sensação de desarmamento, em que o adversário acredita que um tema ou questão foi resolvido de forma pacífica, apenas para ser surpreendido por um ataque subsequente.

Esse comportamento foi exemplificado depois de um pedido de perdão a José Luiz Datena anterior ao debate na TV Cultura. Marçal pediu perdão ao apresentador por atitudes anteriores, em um gesto que poderia ser interpretado como genuíno e conciliatório. No entanto, poucos dias depois, durante o debate citado, ele voltou a atacá-lo. A tática aqui é clara: ao desarmar temporariamente o adversário com um pedido de perdão, Marçal busca pega-lo desprevenido, expondo suas fragilidades quando menos se espera.

Outro exemplo revelador foi seu comportamento em relação ao atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Antes do debate desta terça, no UOL/Rede TV, Marçal mandou um bilhete a Nunes, afirmando que não desejava envolver a família nos ataques da campanha, declarando sua intenção de focar nos aspectos políticos. No entanto, logo depois, ele atacou diretamente a família do prefeito, na pessoa de sua esposa. Novamente, temos a estratégia de desarmar previamente o flanco que será atacado. Ao afirmar que respeitaria um limite ético (não atacar a família), Marçal abre o caminho para que, quando o ataque ocorra, ele já tenha minado a resistência do adversário e desviado a atenção da crítica.

A estratégia de ser contra o crime mesmo acusado de fazer parte dele

Marçal também se coloca como um opositor ferrenho do crime organizado, como o Primeiro Comando da Capital (PCC). Contudo, surgiram relatos e processos criminais que sugerem um possível envolvimento de sua campanha com o crime, seja diretamente ou por meio de alianças obscuras. Esta contradição reflete outra faceta da estratégia: projetar uma imagem de opositor para esconder possíveis vínculos ou ações que vão na direção oposta ao discurso. Neste caso, a retórica de Marçal se constrói como um defensor da moralidade e da ordem, mas seus vínculos parecem contradizer diretamente essa imagem, novamente minando a confiança do público e adversários.

Em debates e declarações, Marçal também aplicou essa mesma técnica contra Tábata Amaral. Embora tenha inicialmente adotado um discurso de respeito à jovem parlamentar, posicionando-se como alguém que dialoga com novas ideias, rapidamente ele mudou o tom, utilizando questões pessoais e políticas contra ela. Esta alternância entre discurso amigável e ataques calculados faz parte de uma estratégia para confundir os adversários e criar um ambiente no qual eles não estão preparados para se defender adequadamente.

Como classificar as estratégias da “nova” extrema direita:

Essa estratégia, frequentemente utilizada ultimamente por políticos de extrema direita, pode ser classificada como uma forma de "desarmamento retórico seguido de ataque". Ela se baseia em quatro pilares:

  1. Desarmamento temporário: Criar um ambiente de aparente paz e conciliação, geralmente por meio de desculpas públicas, declarações de respeito ou negações de intenção de ataque.
  1. Ataque por flancos desguarnecidos: Utilizar os momentos seguintes ao desarmamento para atacar justamente o ponto que foi previamente protegido com palavras conciliatórias.
  1. Contradição intencional: Lançar mão de discursos contraditórios, como dizer-se contra o crime organizado enquanto mantém vínculos suspeitos, para confundir o público e dividir a narrativa.
  1. Manipulação da imagem pública: Criar uma imagem de defensor da moralidade e da ordem, enquanto usa táticas inescrupulosas para lacrar nas Redes Sociais, cujo maior objetivo é enfraquecer os adversários.
Políticos experientes que são pegos pela rede da mediocridade

Essa estratégia, que tem sido frequentemente usada por figuras da extrema direita, pode ser vista como habilidosa em um nível estratégico, mas não necessariamente brilhante. Ela é eficaz, especialmente quando os adversários não estão preparados para responder a mudanças rápidas de postura. No entanto, essa estratégia não é inovadora nem complexa – é uma técnica básica de desorientação, onde o foco está em criar uma falsa sensação de segurança para depois atacar em um momento de vulnerabilidade.

Em debates e campanhas eleitorais, os candidatos muitas vezes se preparam para confrontos diretos e esperam que os ataques sejam feitos de forma previsível. Marçal tira vantagem disso ao alternar entre o discurso de conciliação e o ataque, criando um ciclo de confusão que pega os oponentes desprevenidos. Essa técnica funciona principalmente quando os adversários são excessivamente focados em suas próprias defesas e não estão atentos às mudanças de comportamento do oponente.

Por outro lado, o fato de ser uma estratégia básica pode também expor suas limitações. Se os adversários antecipam esse padrão de comportamento, a tática se torna previsível e perde força. É uma abordagem que depende muito da surpresa e da capacidade de desarmar psicologicamente o oponente, mas não necessariamente de um conteúdo ou habilidade mais substancial.

Em resumo, não é uma tática brilhante, mas sim eficaz na exploração de falhas na preparação dos adversários. Adversários mais experientes e atentos podem desarmá-la facilmente, transformando o ataque em uma oportunidade de expor a inconsistência e a desonestidade do candidato.

A utilização de tais táticas, como as exemplificadas por Marçal, tem consequências profundas para a política. Elas criam um ambiente de desconfiança, polarização e desgaste das relações entre candidatos, partidos e eleitores. Além disso, o uso de tais métodos pode resultar em um enfraquecimento do debate público, uma vez que o foco se desvia de políticas públicas e propostas concretas, deslocando-se para o campo das trocas de acusações e manipulações.

O comportamento de Ricardo Marçal em sua campanha é um reflexo de uma tática política que visa desorientar e enfraquecer os adversários por meio de um discurso contraditório e manipulação. Para enfrentá-la, é essencial que os candidatos e o público estejam conscientes dessas técnicas e preparados para expor suas inconsistências e perigos ao debate democrático.

"Quando estamos perto, devemos fazer o inimigo acreditar que estamos longe; quando longe, fazê-lo acreditar que estamos perto."

Sun Tzu - A arte da guerra


O futebol brasileiro, um dos maiores símbolos culturais do país, é conhecido mundialmente por sua paixão e talento. No entanto, em várias ocasiões, a integridade do esporte foi comprometida por escândalos de corrupção que mancharam a sua história. Três dos maiores escândalos foram a Máfia das Loterias (1982), a Máfia do Apito (2005) e, mais recentemente, a chamada Máfia das Bets, que explodiu em 2023. Cada um desses eventos envolveu manipulação de resultados e interesses financeiros ilícitos, impactando a credibilidade do futebol brasileiro.

Um vídeo curto do jornalista Chico Pinheiro para o ICL (Instituto Conhecimento Liberta) de 1 minuto e 20, chama a atenção pela ênfase dada a Máfia das Bets. Depois de uma minuciosa pesquisa, escrevo esta matéria com detalhes que alertam para um problema, que como diz Chico, ninguém está dando a devida importância na imprensa esportiva nacional.

Máfia das Loterias (1982)

Em 1982, o Brasil foi sacudido por um escândalo que envolveu a manipulação de resultados de jogos de futebol para fraudar o resultado da Loteria Esportiva. A Loteria Esportiva, na época, era extremamente popular, e os jogos de futebol eram fundamentais para o funcionamento do sistema de apostas.

A fraude foi descoberta após a revelação de que um grupo de pessoas, incluindo jogadores, dirigentes e apostadores, estava combinado para manipular os resultados das partidas. O objetivo era garantir que certos resultados ocorressem, permitindo que os fraudadores ganhassem prêmios na Loteria Esportiva. O escândalo levou a uma série de investigações, com prisões e suspensões de envolvidos, mas os danos à credibilidade do futebol brasileiro já estavam feitos. A confiança do público na integridade do esporte foi severamente abalada.

A Máfia do Apito (2005)

Em 2005, o futebol brasileiro enfrentou outro grande escândalo, conhecido como a Máfia do Apito. O esquema foi revelado pelo jornalista André Rizek e envolvia a manipulação de resultados de jogos do Campeonato Brasileiro por um grupo de árbitros liderados pelo então árbitro Edílson Pereira de Carvalho. O esquema consistia em manipular os resultados para beneficiar apostadores em sites de apostas.

Edílson Pereira de Carvalho recebia subornos para garantir que certas equipes vencessem ou perdessem de acordo com as apostas feitas. Quando o esquema foi descoberto, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu anular 11 partidas do Campeonato Brasileiro de 2005, todas arbitradas por Edílson. As partidas foram remarcadas, mas o escândalo deixou uma mancha indelével na reputação do futebol nacional.

Máfia das Bets (2023)

O mais recente escândalo que abalou o futebol brasileiro é a chamada Máfia das Bets, um esquema de manipulação de resultados que veio à tona em 2023. O termo "Bets" refere-se às apostas esportivas, que nos últimos anos passaram por uma explosão de popularidade, em parte devido à legalização e regulamentação do setor no Brasil. Com o aumento das apostas, também surgiram oportunidades para esquemas ilícitos que visam manipular resultados de jogos de futebol, muitas vezes envolvendo jogadores, árbitros e dirigentes.

O Esquema, investigação e impactos

A Máfia das Bets funciona de maneira semelhante à Máfia do Apito, mas com a diferença de que agora as apostas são feitas em plataformas online, muitas delas operando fora do Brasil. O esquema envolve subornos a jogadores e árbitros para que manipulem o resultado de jogos específicos, garantindo que certas apostas sejam vitoriosas. Essas apostas podem variar desde o placar final até eventos específicos dentro do jogo, como número de cartões ou escanteios.

Em 2023, a Polícia Federal e o Ministério Público iniciaram uma grande investigação, batizada de "Operação Penalidade Máxima", para desmantelar a Máfia das Bets. A investigação revelou que jogadores de diversas divisões do futebol brasileiro estavam envolvidos no esquema, recebendo quantias consideráveis para manipular resultados. Alguns jogadores foram presos, enquanto outros foram suspensos e estão sendo processados.

O escândalo atingiu um nível preocupante devido à abrangência do esquema, que não se limitava a uma liga ou região específica, mas envolvia jogos em várias divisões e estados. Além disso, a facilidade de acesso às plataformas de apostas online tornou o esquema ainda mais difícil de detectar e combater, aumentando o risco de manipulação de resultados em um cenário globalizado.

A repercussão do escândalo foi intensa, com torcedores, jogadores e autoridades expressando indignação. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e outras entidades do esporte estão trabalhando em conjunto com as autoridades para combater o problema, implementando novas medidas de monitoramento e regulamentação das apostas esportivas. No entanto, o impacto sobre a credibilidade do futebol brasileiro já é significativo, e o desafio agora é restaurar a confiança do público e assegurar a integridade do esporte.

Quem pode estar envolvido

Vários jogadores foram identificados e estão sendo investigados por supostamente aceitarem subornos para manipular resultados ou eventos específicos dentro dos jogos. Entre os jogadores citados, há tanto atletas de times da Série A quanto de divisões inferiores, o que mostra a extensão do problema em diferentes níveis do futebol brasileiro.

Alguns técnicos também foram mencionados nas investigações, suspeitos de conivência com o esquema, seja por permitir que jogadores participassem da manipulação ou até mesmo por orientá-los a influenciar o resultado de uma partida.

Há indícios de que alguns dirigentes de clubes estariam envolvidos, facilitando o acesso dos apostadores aos jogadores ou recebendo uma parte dos lucros provenientes das apostas fraudulentas. A investigação está focada em entender se houve um esquema organizado dentro de certos clubes, onde dirigentes poderiam ter controlado ou incentivado a manipulação.

Empresários e agentes de jogadores também estão sob investigação, especialmente aqueles que possuem grande influência na carreira dos atletas. Eles podem ter usado essa influência para coagir ou convencer jogadores a participar do esquema.

Alguns empresários, que atuam como intermediários entre jogadores e plataformas de apostas, estão sendo investigados. Esses indivíduos podem ter sido responsáveis por orquestrar a manipulação de resultados, garantindo que as apostas fossem bem-sucedidas em troca de grandes lucros.

Há também menções a empresários com grande participação no futebol nacional, que podem ter usado suas conexões para facilitar o esquema. Esses empresários podem ter influenciado diretamente dirigentes e jogadores.

Até agora, não há nomes específicos de políticos de alto escalão envolvidos diretamente na Máfia das Bets, mas investigações apontam para uma possível influência indireta. Isso inclui a omissão de certas figuras políticas em relação à regulamentação das apostas esportivas, ou até mesmo o favorecimento de certos grupos empresariais que poderiam ter facilitado a operação do esquema.

A possibilidade de lobby político para proteger os interesses de plataformas de apostas ou grupos envolvidos no futebol também está sendo investigada. Esse tipo de envolvimento pode ser mais sutil, mas igualmente prejudicial, pois cria um ambiente onde a manipulação de resultados pode prosperar sem consequências severas.

Conclusão

Os escândalos de corrupção no futebol brasileiro, desde a Máfia das Loterias em 1982 até a recente Máfia das Bets em 2023, refletem a vulnerabilidade do esporte diante de interesses financeiros ilícitos. A cada nova revelação, a confiança do público é abalada, e o desafio de preservar a integridade do futebol se torna mais complexo.

As apostas esportivas, especialmente em um ambiente digital, apresentam novos desafios que exigem uma abordagem robusta e inovadora para proteger o esporte que é um símbolo nacional. O futuro do futebol brasileiro depende da capacidade de aprender com esses escândalos e implementar medidas eficazes para evitar que eles se repitam.

Assista o vídeo do Chico Pinheiro no YouTube

Reprodução da Internet

Nos becos sombrios da história, o fascismo nunca desapareceu realmente. Espreitando nas sombras, está sempre pronto para ressurgir com nova fantasia. E por este motivo, muitos críticos apontam que a mídia corporativa global tem sido cúmplice, senão protagonista, nesse revival sinistro. No entanto, o que é chamado de "novo fascismo" não passa de uma versão reciclada do fascismo tradicional, agora adaptada às novas realidades e tecnologias do século XXI.

A Renascença do Autoritarismo

O fascismo clássico, por assim dizer, emergido nas décadas de 1920 e 1930, foi marcado pela centralização do poder, a glorificação de um líder carismático, o nacionalismo exacerbado e a supressão brutal de dissidência. Seus métodos eram visíveis, seus horrores palpáveis. No entanto, se as estratégias mudaram com o tempo, os objetivos do fascismo moderno permanecem assustadoramente familiares.

Atualmente, esse velho espectro ressurge com novas ferramentas à sua disposição. A mídia corporativa, com seu alcance global e poder de moldar narrativas, tem desempenhado um papel crucial nesse processo. Através de uma combinação de desinformação, manipulação emocional e amplificação de vozes autoritárias, a mídia muitas vezes ajuda a pavimentar o caminho para o retorno de políticas e ideologias que antes julgávamos enterradas e relegadas ao passado.

A era digital trouxe uma proliferação de plataformas de informação, mas paradoxalmente, também fortaleceu o controle centralizado de grandes conglomerados midiáticos. Estes conglomerados frequentemente determinam quais vozes são amplificadas e quais são silenciadas. Através de manchetes sensacionalistas, cobertura enviesada e a perpetuação de discursos polarizadores, a mídia corporativa cria um ambiente onde o fascismo pode renasce e pode prosperar com uma imagem supostamente nova e contemporânea.

Esse novo fascismo adota um verniz de respeitabilidade e conservadorismo, utilizando a linguagem da democracia e da liberdade enquanto, na prática, mina esses mesmos valores. Através da repetição incessante de narrativas que demonizam minorias, exaltam líderes fortes e depreciam a complexidade da política. Neste terreno fértil, a mídia contribui para a construção de uma sociedade mais receptiva ao autoritarismo.

Uma das armas mais potentes deste suposto "novo" fascismo é a desinformação. Notícias falsas e teorias da conspiração, disseminadas amplamente através de redes sociais e veículos de mídia de massa, criam um ambiente de medo e incerteza. Nesse caos informacional, a figura do "salvador forte" se torna atraente para muitos, ressoando com as antigas táticas fascistas de apresentar um líder carismático como a solução para todos os problemas.

A supressão da dissidência continua sendo uma característica central do "novo" fascismo. No entanto, as estratégias modernas são mais sutis. Em vez de campos de concentração e execuções sumárias, vemos campanhas de difamação, censura velada e a marginalização de vozes opositoras através de algoritmos e políticas corporativas. A mídia corporativa, ao alinhar-se com interesses políticos e econômicos, frequentemente ignora ou minimiza vozes críticas, contribuindo para um ambiente onde o dissenso é desestimulado.

A Origem das Fake News

As "fake news", ou notícias falsas, não são um fenômeno exclusivamente moderno; suas raízes remontam a tempos antigos. Desde que o ser humano começou a comunicar-se por meio de escrita e linguagem, a disseminação de informações falsas tem sido utilizada como uma ferramenta para manipular, enganar e influenciar.

Na Roma Antiga, por exemplo, o imperador Augusto utilizava propaganda para desacreditar seus inimigos políticos. Durante a Idade Média, rumores e mentiras eram frequentemente espalhados para incitar revoltas ou justificar guerras. No entanto, o termo "fake news" ganhou destaque contemporâneo com a ascensão da internet e das redes sociais, que proporcionaram um ambiente fértil para a rápida disseminação de informações, verdadeiras ou falsas, a uma audiência global.

A explosão de mídias sociais, blogs, e outras plataformas de comunicação digital no início do século XXI criou novas dinâmicas de informação, onde qualquer pessoa pode criar e compartilhar conteúdo sem a necessidade de verificação ou validação. Este cenário, aliado à busca incessante por cliques e engajamento, propiciou o surgimento de um vasto ecossistema de fake news.

As fake news

Analisando as fake news, é fácil classifica-las em algumas categorias principais que servem de direção para identifica-la ao que exatamente elas estão servindo:

1. Manipulação Política
  • Uma das motivações mais comuns para a criação de fake news é a manipulação política. Partidos, candidatos e governos utilizam notícias falsas para influenciar a opinião pública, desacreditar adversários, ou promover agendas específicas. Este uso de desinformação é particularmente evidente durante períodos eleitorais, onde o impacto das fake news pode alterar significativamente o resultado de votações.
2. Ganhos Financeiros
  • Muitos criadores de fake news são motivados pelo lucro financeiro. Notícias sensacionalistas, chocantes ou altamente polarizadoras geram mais cliques, compartilhamentos e visualizações, que podem ser monetizados através de publicidade. Sites e páginas de redes sociais que se especializam em fake news frequentemente lucram com o tráfego gerado por suas postagens virais.
3. Desestabilização Social
  • Fake news também são usadas como uma arma para criar caos e desestabilização social. Governos ou grupos externos podem disseminar desinformação para semear discórdia, medo e desconfiança em sociedades adversárias. Esta tática pode enfraquecer a coesão social e minar a confiança nas instituições democráticas.
4. Reputação e Vingança
  • Individuais ou grupos podem criar e espalhar fake news para destruir reputações pessoais ou empresariais. Difamação e calúnia são antigas ferramentas de vingança, agora amplificadas pelo alcance instantâneo das redes sociais.
5. Entretenimento e Sátira
  • Embora menos maliciosas, algumas fake news são criadas puramente para entretenimento ou sátira. No entanto, a falta de clareza entre o que é sátira e o que é apresentado como fato pode levar a uma confusão significativa entre os consumidores de notícias.
Conclusão

O novo fascismo, portanto, não é uma novidade. É uma continuação, uma adaptação do velho fascismo às novas realidades do mundo moderno. E a mídia corporativa global, através de suas práticas e escolhas editoriais, tem sido acusada de flertar perigosamente com essa ideologia. O desafio para a sociedade contemporânea é reconhecer essas táticas, criticar essas alianças e lutar pela preservação de uma mídia verdadeiramente livre e plural, que sirva ao interesse público e não aos desígnios autoritários. Somente assim poderemos evitar que os fantasmas do passado se tornem os senhores do presente.

E na outra ponta, as fake news. A proliferação dessa modalidade de "informação" representa um desafio significativo para a sociedade contemporânea. Suas origens históricas mostram que a disseminação de informações falsas é uma prática antiga, mas a escala e velocidade com que podem ser propagadas hoje são sem precedentes. Entender os objetivos por trás das fake news é crucial para desenvolver estratégias eficazes de combate e educação, promovendo um ambiente informacional mais saudável e confiável. A alfabetização midiática e a verificação rigorosa de fatos são ferramentas essenciais na luta contra a desinformação, garantindo que a verdade prevaleça em meio ao ruído.
Uma sequência que mostra detentos supostamente cantando um jingle do ex-presidente Lula teve seu áudio adulterado. O vídeo foi compartilhado mais de 5,9 mil vezes nas redes sociais desde 3 de outubro de 2022 com a alegação de que se trata da comemoração de eleitores de Lula no presídio após os resultados do primeiro turno das eleições de 2022. Mas a gravação é de julho de 2016 e no áudio original não há qualquer menção ao candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência.


'E assim que vejo os eleitores do lula, olha como está nos presídios, a culpa é de vocês que o defendem, depois não venha pedir clemência', diz a legenda do vídeo compartilhado no FacebookInstagramKwai e TikTok.

No vídeo é possível ver diversos presos pulando enquanto parecem cantar 'olê, olê, olê, olá, Lula, Lula', jingle comumente ouvido em manifestações a favor do ex-presidente.


Em algumas das gravações que circulam com melhor definição é possível identificar o que está escrito em uma camisa levantada por um dos detentos: 'massa potiguar', fazendo referência aos habitantes do Rio Grande do Norte.

Em algumas das gravações que circulam com melhor definição é possível identificar o que está escrito em uma camisa levantada por um dos detentos: 'massa potiguar', fazendo referência aos habitantes do Rio Grande do Norte. A partir disso, por meio de uma pesquisa no Google, o Checamos localizou a mesma sequência, com mais tempo de duração, publicada em 30 de julho de 2016 em um blog do estado nordestino.

De acordo com o texto, as imagens mostram presos comemorando uma onda de ataques realizada na época no Rio Grande do Norte.

Essa informação também foi publicada pelo jornal local Tribuna do Norte, segundo o qual o vídeo mostra presidiários comemorando ações violentas em Natal, capital do estado, no pavilhão 4 da penitenciária de Alcaçuz.

Fotos internas do presídio publicadas por meios de comunicação possibilitam identificar um cenário muito semelhante ao da gravação.

No vídeo publicado na imprensa identifica-se que os detentos estão gritando 'uh, é a massa' e 'é a massa potiguar', e não o jingle relacionado ao ex-presidente Lula.

Essa mesma gravação já havia viralizado por duas vezes anteriormente, e foi verificada (12) pelo Checamos, relacionada à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) contra a prisão em segunda instância e a anulação por parte do ministro Edson Fachin das sentenças da 13ª Vara Federal de Curitiba em ações envolvendo o ex-mandatário.

Na data, procurada pela AFP, a Secretaria de Estado da Administração Penitenciária do Rio Grande do Norte confirmou que as imagens foram gravadas em 2016 na penitenciária de Alcaçuz, no município de Nísia Floresta.

Em julho de 2016, o Rio Grande do Norte viveu uma onda de ataquesassociada pelo governo a uma retaliação à instalação de bloqueadores de sinal de celular em presídios da região. A Força Aérea Brasileira (FAB), inclusive, enviou tropas ao estado para ajudar na segurança.

Fonte: Estado de Minas



Bolsonaro é um ator de quinta. Dos piores. Sua intenção está clara. Ele quer pautar o golpe nas agendas da mídia, das instituições civis, do Congresso, do Judiciário e principalmente da Oposição.

Olho a esquerda e a direita e vejo o medo se espalhando. O medo de uma ruptura institucional que só vai ocorrer, se embarcarmos na paranóia e no ataque frontal a Bolsonaro.

Não se fala mais em outra coisa, tanto na mídia corporativa, como nas ditas mídias independentes e também na sociedade civil.

A ordem do dia nas redações, corredores e declarações são as intenções golpistas de Bolsonaro, depois que passou o maior vexame registrado na vida política brasileira pós ditadura. O famoso data show para os embaixadores dos países amigos. Conseguiu ultrapassar o mico do Collor quando foi a tv, antes do seu impedimento, apelar para o "não me deixem só".

De repente, instituições que já deveriam ter apontado e exigido a punição dos crimes de Bolsonaro e seus filhos, desde o início deste pérfido mandato, de repente, quando o delinquente coloca o Brasil numa posição vexaminosa perante o mundo, resolvem reagir.

A última hora é a hora errada sempre, para qualquer reação. Ou se age de modo preventivo, advertindo o protagonista desse roteiro burlesco com medidas repressoras já no início do mandato ou se espera acontecer o que todos imaginam.

Porque? Vão me perguntar os afoitos e desesperados de última hora.

Óbvio e ululante. Não se sofre por antecipação.

Desde que tomou posse, Bolsonaro vem cometendo crimes de responsabilidade, de improbidade, de corrupção, de atentado contra as instituições democráticas e ninguém fez nada, excetuando obviamente os inumeráveis pedidos de impedimento no Congresso, que Lira, o cachorrinho corrupto do presidente engavetou sem a menor cerimônia ou parcimônia.

Mas isso foi a Oposição no Congresso, que sempre fez o papel dela.

Mas das instituições jurídicas e organizações civis, escutamos apenas voto de repúdio e cinco dias para o Planalto explicar ao Supremo, suas ações criminosas e de traição ao país.

E o STF? Que quando recebeu esses pedidos de impedimento se omitiu ´por unanimidade.

Enfim, estranhamente, só agora todos estão alarmados com a real possibilidade de um golpe e a Oposição também está se deixando levar por esse chamado ao caos da Nação.

Sim. Chamado ao caos. Ainda não é hora de ocupar as ruas. Não aconteceu golpe o ainda. Agora a hora é de campanha eleitoral e trabalhar para a vitória do Lula ainda no primeiro turno.

Tudo que o Bolsonaro quer não é ganhar a eleição. Mas impedir a vitória de Lula, que deslegitimaria qualquer pauta de golpe ou suspensão das eleições.

Neste momento mesmo, Bolsonaro não tem nada que o apoie num suposto golpe. Se ele tentar a preço de hoje, sairá algemado do Planalto e irá direto para a prisão. Da mesma forma, se Lula vencer as eleições, Bolsonaro não conseguirá ter sucesso numa tentativa de golpe.

E se entrarmos no jogo do alarmismo, sofrendo antecipadamente por algo que não ocorreu, começar a traçar e praticar estratégias de pressão contra o que ainda não existe, simplesmente essas estratégias perderão sua força de reação quando e se, realmente ocorrer uma ruptura democrática.

Porque não adianta sofrer agora sem nada acontecer, e se há uma real intenção de Bolsonaro contra a Democracia, da qual ele se beneficiou e muito,  isso vai acontecer de um jeito ou de outro. Então as ações motivadas por medo e paranoia não são as melhores soluções.

Uma eficiente e forte campanha eleitoral que una todos os setores democráticos da sociedade brasileira e que chame o povo para uma vitória ainda no primeiro turno é o único caminho viável para evitar que se consume o golpe.

Claro que a mídia , as instituições, o judiciário e outras organizações da sociedade civil, junto com os militares democráticos, devem fazer Bolsonaro sangrar até as eleições, sem realmente ataca-lo mortalmente, porque deste modo ele reagirá como um animal acuado, ou pelo menos ele encenará essa condição e tentará realmente um golpe desesperado no meio do caos.

E nada me convence o contrário de que é exatamente isso que ele quer.

Essas. na minha humilde visão são as estratégias ideais para proteger a Democracia até as eleições. Pressão psicológica em peso pra cima do delinquente, o que já ocorre, e uma eficiente campanha eleitoral que possibilite a vitória de Lula no primeiro turno.

Agitação social é o que menos o Brasil precisa neste momento.

A solução para sairmos desse atoleiro é manter e defender a paz social no país.

Para isso, um dos lados não pode partir para a briga institucional e irracional, propriamente dita, antes das eleições.

Bolsonaro por si só, se enterrará na própria cova.

Que venham as eleições!

Eliseu Mariotti


Aroeira - Brasil 247

A guerra é o caos violento em um nível que a maioria dos povos não conseguem compreender. Mas ainda mais violentos são aqueles que a provocam manipulando peças menores no xadrez global sem empunhar uma arma sequer.

A Europa e os EUA se escondem atrás de envio de armas, colocando mais gasolina na fogueira, manipulando um líder extremista que consegue ser mais burro do que Bolsonaro, para atingir uma potência, uma das duas que conseguem enfrentar a Otan, aliás, uma aliança que não tem mais nenhum sentido em existir, já que não tem qualquer motivação econômica.

Tudo que o o Ocidente busca é um imperio hegemônico global, só que não contavam com a aliança entre a China e a Rússia quando entraram em campo, primeiro com o golpe na Ucrânia em 2014, depois com a ingerência nas manifestações de Hong Kong em 2019/2020. Mas a China não deixou por menos e calou os manifestantes manipulados pela guerra híbrida estadunidense e a Rússia com a invasão da Ucrânia vai terminar com o que essa mesma guerra híbrida começou em 2014.

Essa guerra não está começando, porque ao contrário do que muitos pensam, ela simplesmente está terminando. E quem a está terminando é a Rússia.

A ladainha do momento, dos analistas e redações ocidentais, inclusive do Brasil, é que a “invasão” da Ucrânia é injusta e que “Putin não vai parar por nada agora” em sua chamada busca para retomar os países do antigo bloco soviético. Balela! A Rússia não quer resgatar um bloco extremamente custoso e altamente turbulento.

É impressionante a "desmemorização" da mídia ocidental com relação aos mísseis nucleares que, em outubro de 1962, a então União Soviética de Krushev, pretendia instalar uma base militar de Cuba. Kennedy não aceitou e houve o famoso bloqueio naval por parte da Marinha estadunidense, de modo que o Bloco comunista recuou e a guerra foi evitada.

A diferença hoje, é que a Otan, usando a Ucrânia por meio de seu governante neonazista, e que foi convencido pelos americanos, a instalar uma base da Otan as portas do Urso eslavo, não recua de suas intenções.

E cutucaram tanto o urso adormecido que ele despertou com um rugido que assusta o mundo neste momento. Até o perigo nuclear ressuscitou entre as cinzas dos cogumelos no horizonte de Hiroshima e Nagasaki.

A ingerência da Otan, Europa e Estados Unidos na Ucrânia é tão absurda, que nem Israel, tradicional aliado do Ocidente, apoia as sanções impostas contra Putin. Simplesmente , porque a Ucrânia hoje está nas mãos de nazistas!

Com essa narrativa idiota e cega da mídia ocidental, poucos se preocupam em olhar para a história e as nuances do que aconteceu nos últimos anos que provocaram tal reação de Putin.

As redações ocidentais ainda tentam nos iludir sobre a Ucrânia, simplificando e distorcendo os fatos, simplesmente para que possam continuar com seu trabalho de produzir a agenda de Washington, e que lhes dá uma osso de vez em quando como recompensa.

A chamada “revolução” na Ucrânia é sempre relatada como uma vitória para o Ocidente, pois a “democracia” finalmente matou os poderes malignos da influência soviética, pois a última é sempre pintada como corrupta e nociva para a ordem global. Só que o Ocidente, a despeito do seu maléfico plano de uma ordem global sob seu controle, está apoiando uma Ucrânia nazista!

Apesar disto, há vozes suficientes na mídia alternativa, que chamam o que aconteceu na Ucrânia de 2014, como um golpe de estado apoiado pelos EUA e agora, Zelensky como o novo idiota útil do Ocidente.

Até mesmo o Los Angeles Times , poucos dias antes da invasão, pintou um retrato do novo presidente como um cretino quase inútil disfarçado de herói político que havia perdido um colosso de capital político nos últimos meses, quando as tensões com a Rússia começaram a ser sentidas.

O cruel da guerra é que a Verdade geralmente é a primeira vítima quando as armas começam a pipocar.

E quanto as promessas de apoio do Ocidente ao governo Zelensky? O idiota útil estava crente que haveria tropas da Otan para dar suporte a suas pretensões de ser uma potência neonazista no leste, mas na realidade recebeu apenas um suporte de quantias relativamente pequenas de dinheiro e equipamentos militares.

A OTAN enviará um soldado que seja à Ucrânia para combater os soldados russos? Algum estado membro da UE ou dos EUA fará o mesmo? Eu não consigo visualizar esta possibilidade.

A águia não enfrenta o urso.

E exatamente por este motivo, podemos ver a tensão no rosto de Zelensky em suas postagens nas mídias sociais e sua raiva em relação a Washington, à OTAN e à UE. É tão burro e ingênuo, quanto inescrupuloso. Na mesma medida.

E seguindo o script não escrito, a credibilidade do Ocidente caiu, e sanções são tudo que eles tem, e com certeza isso não vai parar a Rússia.

Esperemos que os próximos capítulos desta guerra sejam cirúrgicos e decisivos, porque uma coisa é certa: as guerras são cruéis, não só no leste da Europa, mas na Palestina, no Iêmen, na Somália, na Líbia, no Líbano, na Síria, no Afeganistão, no Iraque e com certeza, o povo mais fraco e indefeso, são os que não conseguem realmente processa-las.

As vítimas são incontáveis, e os vencedores, cada vez menos são reais.

Eliseu Mariotti

Esse texto do Makely Ka, músico ligado a produção cultural e gestão pública em MG, é muito interessante e trata da suposta polêmica criada por alguns personagens já carimbados, com a eleição de Gilberto Gil, na Academia Brasileira de Letras.

Um texto que abre caminhos para um debate histórico num patamar bem elevado. Não quero ter a pretensão de estar nesse patamar, mas creio que devo me colocar num posicionamento que tenho refletido desde a eleição da Grande Fernanda Montenegro e do Mestre e Sábio Gilberto Gil para a Academia Brasileira de Letras.
Coincidentemente, essa minha reflexão leva exatamente a uma afirmação do autor compartilhado aqui e que me motivou a escrever o porque da minha discordância a somente este ponto do texto do autor compartilhado aqui, o Makely Ka. Em determinado momento, já quase finalizando o autor afirma não levarmos tão a sério a condição de imortal da ABL, Gil como artista já se fez imortal. Nesse ponto concordo, mas quanto a não levar a sério a condição eletiva de imortal da ABL, especificamente discordo.
Explicarei o porque, mas recomendo que leiam primeiro o texto do autor, para depois irem ao meu texto. E assim terem uma ideia exata do que foi o ponto de discordância e opinarem sobre este ponto.
Agradeço de antemão a paciência para ler. Mas para quem fala, escreve e discorre sobre literatura, com certeza, ler estes textos não serão um fardo pesado de se carregar.
Vamos lá. Tenho plena convicção da importância e da condição séria de pessoas como Fernanda e Gil terem entrado para ABL, constando um perfil totalmente diferente em muitas décadas dos escritores que têm sido levados a serem os tão falados imortais.
Mas esperem, não falo em levar a sério o ingresso na ABL por causa de ilustre literatos colocados na condição de imortais e ou por essa supostamente ser uma posição ápice e exclusiva de qualquer escritor brasileiro que, por assim dizer, chegou ao topo.
Não, para mim, isso sim é uma grande bobagem.
Falo sim e defendo essa seriedade, avisando que não irei abordar os perfis absolutamente diferenciados dos dois eleitos para a Academia, mas claro que pelo fundamental fato, sendo já redundante, de que a Academia foi fundada por um negro. O grande e merecidamente imortal Machado de Assis.
E apesar disto, somente depois de mais de um século, é que Gil é o segundo negro na composição dos imortais da Academia.
O que é muito pouco numa instituição literata fundada por um negro num país de muitos escritores e poetas negros, inclusive mulheres, tendo na minha opinião, um exemplo como Carolina Maria de Jesus, catadora de papel que ficou conhecida nos anos 60, depois do lançamento de “Quarto de despejo”, um diário sobre a vida numa favela brasileira, como a mais alta representante do gênero, já que na tese dos acadêmicos seria inviável sair do meio em que originou Carolina, uma escritora.
Inclusive Carolina foi discriminada em um debate na própria ABL, nos anos 80 do séc. XX, sendo afirmado ali que se ela fosse considerada escritora, qualquer um poderia ser. Ora, e não é isso mesmo? O próprio Makely Ka afirmou isso nas entrelinhas em seu texto. Quantos escritores no mundo de origens inviáveis são cults, colocados nos pedestais dos grande escritores mundiais? Tenho vários que poderia nomear aqui. Mas o texto já está ficando longo.
Além disto, O namoro entre Gil e a academia é antigo.
Em 1996 Gilberto Gil lançou o livro “Todas as Letras”, sua primeira obra. A coletânea de composições o fez atender um dos pré-requisitos para que pudesse disputar um assento na ABL: ter ao menos um livro publicado. E Gil, foi a expressão pura do que o autor do texto abaixo afirma.
Da música saiu as palavras, os fonemas e por fim a literatura. Na minha opinião, o que não deve ser levado a sério é a polêmica em torno disso, promovida obviamente por aqueles personagens que se acham donos da cultura, da intelectualidade e do pensamento brasileiro.
Por uma estranha "coincidência", todos brancos. Por isso, sim levemos a sério a ABL, para que suas origens não sejam mais esquecidas e ela continue dominada por uma classe dominante que absolutamente não a concebeu e hoje se apropria da Instituição como se fosse de direito divino e é assim como tem sido por praticamente um século ou mais.
É somente mais uma opinião de um branco. Tenho muito orgulho de vários da minha etnia que representam muito bem a nossa cultura, e nenhum orgulho de muitos. Mas tenho muitos orgulhos de músicos, atores, literatos, artistas plásticos e poetas negros que representam não apenas a cultura negra, mas a diversidade cultural brasileira, por que é exata a minha afirmação de que mesmo nas artes de origens brancas, não houve pudores aos negros de se manifestarem nelas e mostrarem ao mundo com muita dedicação e amor a diversidade cultural de nosso querido, sofrido, espoliado e escravizado Brasil, um país que também foi feito por eles a um preço de sangue e mortes que a história não deixa ficar enterrado e esquecido. E nem deveria, jamais!
E é sabendo disso que afirmo e reafirmo, mais um negro na Academia Brasileira de Letras é coisa séria e é um resgate de uma instituição que tem que ser regida pela força mandatária da cultura popular brasileira, que é a cultura que rege nossa identidade.
Com todo respeito, Makely Ka. Link do texto de Makely Ka https://www.facebook.com/photo?fbid=10159605445177974&set=a.10150175492247974

Eu assisti Mariguella, do talentoso Wagner Moura.

E voltei a minha infância. Voltei dos 5 aos 6 anos de idade.
Minha mãe nos criou com um certa independência para se locomover nas ruas desde tenra idade. Sabíamos atravessar as ruas e ir a pré-escola sozinhos. Uma época, em tese, em que existia uma falsa sensação de segurança.
Era ditadura. Com a censura, não se sabia de maiores perigos.
Mesmo assim vi coisas e tudo que eu via desde muito novo me ficou gravado na memória. Lembro de coisas que me aconteceram aos dois anos de idade. Sei porque, quando falava das minhas memórias, minha mãe ou meu pai, me diziam a idade que eu tinha.
Eu descia a rua da minha casa no final dos anos 60 para comprar pão na padaria. Naquela época se consumia mais o pão chamado bengala ou filão que era o pai do pãozinho francês como conhecemos hoje, apesar do pão francês que nunca foi da França, já existir no Brasil, desde poucos anos antes da Primeira Guerra Mundial.
Pois então, no final da rua, havia uma banca de jornal, a banca do Toninho, em que eu parava já naquela idade para ver as manchetes. Já sabia ler desde os 4 anos de idade, incentivado por minha mãe e amava ler.
Era comum ler nas manchetes de primeira página da Notícias Populares, jornal sensacionalista e sangrento, a morte de "terroristas", lembro de ter lido o nome Marighella ali, soube da morte de Elvis Presley ali, entre outras notícias que marcaram a década de 60 e 70.
Para completar esse cenário, nos anos mais terríveis da ditadura militar, eu morava atrás de uma delegacia de polícia em que havia gritos e berros horripilantes dias e noites inteiros.
Não entendia o que acontecia dentro destas delegacias. A contradição era que anos depois, já adolescente, comprava maconha dentro do próprio distrito policial, no final dos anos 70, ainda em plena ditadura militar, numa época em que ser maconheiro e cabeludo era o pior dos crimes depois de ser comunista.
Assistindo Marighella, lembrei que meu pai foi preso pela Ditadura, porquê comprou por engano um Chevrolet 58 preto, meio mafioso, que havia sido usado por células urbanas da guerrilha de esquerda. Ele não sabia e muito menos fazia o perfil de um esquerdista ou alguém simpatizante com a guerrilha no Brasil.
Era um homem pacato, não se manifestava politicamente, e ficou 8 horas no pau de arara dentro do prédio do Deic, sendo torturado para confessar algo que ele nem entendia ou sabia que existia.
Assim aparentava ou é o que eu sei.
Sua sorte, foi que um cunhado de minha mãe, casado com minha tia, o Tio Ivan era Inspetor da Polícia Civil e matador conceituado dentro da corporação e convenceu seus inquisidores a soltarem meu pai. Conseguiu sair com vida, depois de quase morrer por nada do que sabia.
Fui da Força Aérea ainda na ditadura militar, e sempre tive uma postura de liberdade política e de expressão. Fui detido lá algumas vezes por causa disto. Mas era só. Diziam que era coisa de artista, já que eu também fui músico da Banda Sinfônica da FAB.
Mas...
Eu assisti Marighella e percebi que o passado vive em mim.
Vive nas minhas memórias, vive na realidade política brasileira, vive nas casernas, vive na pobreza e na fome, vive na violência, tortura e assassinato praticados pelo estado, vive na classe média fascista, vive no pobre de direita e finalmente no desmonte do país subserviente novamente a política externa dos EUA.
Teve momentos tão dolorosos no filme que eu pensei: Esse filme está acabando com minha verve revolucionária.
No final do filme, um diálogo que considero fundamental, depois que Marighella, o "preto", totalmente desarmado, foi assassinado (aliás, como a maioria dos pretos assassinados no Brasil) pelo sanguinário delegado Fleury, cujo nome nem é mencionado no filme, o "branco", baseado em Joaquim Câmara Ferreira, morto no pau de arara da foto, e que era o mais próximo do "preto", recebe de seu torturador a notícia da morte do líder da ALN:
-Mataram teu amigo, vocês perderam!
O "branco" somente responde:
-Não. Vocês perderam!
Entendi nessa resposta que sim, "Nós perdemos"! Tanto os cães raivosos que mataram e assassinaram na ditadura militar pelos EUA, quanto a sociedade conservadora que fechava os olhos pra ditadura, os revolucionários perderam paras as prisões, torturas e assassinatos junto a falta de estrutura da guerrilha, mas também a falta de união das esquerdas institucionalizadas no Congresso. Enfim, todos nós os brasileiros perdemos.
Do outro e desse lado do balcão.
O Brasil perdeu!
E continuamos a perder.
-Com as ruas de 2013 manipuladas pelos magnatas texanos do petróleo
-com as pautas bombas lideradas pelo mafioso Aécio Neves e seus asseclas antidemocráticos no Congresso, logo depois das eleições de 2014, contra a presidenta reeleita Dilma Roussef
-com o golpe midiático/jurídico/parlamentar contra essa mesma presidenta em 2016
-com o desmonte dos Direitos Trabalhistas realizado pelo ex-vice presidente e sucessor golpista, traidor e corrupto Michel Temer
-com a ascensão do fascismo moreno de Bolsonaro, promovido pela classe dominante e escravista em 2018, com o apoio da extrema direita estadunidense e mundial, jogando Lula na cadeia e o tirando das eleições
-com o desmonte do Estado Social e de Direito também promovido por este mesmo Bolsonaro
-com o genocídio de mais de 630 mil mortes que poderiam ter sido evitadas, também tendo como o principal responsável o governo Bolsonaro e que ainda não terminou.
-e continuamos a perder novamente e repetidamente com a desunião, disputas egoístas de egos e vaidades da esquerda brasileira.
Estou cansado de viver neste eterno loop temporal, cujo passado histórico se recusa a nos deixar e se torna cada vez pior.
E ainda, estamos todos esperançosos que Lula vai ganhar a eleição.
Vai sim.
Se não o matarem antes. Se novamente não o prenderem antes. Se não derem novamente um golpe militar.
Estou cansado de um passado que insiste em se tornar presente.
E que presente de grego!
Estou cansado de perder!
Até quando vamos assistir de novo, presos eternamente neste loop temporal, a nossa derrota a cada século, a cada década ou a cada dia?
Até quando?
Quando reagiremos e então finalmente, iremos mandar este loop insistente e maléfico, as putas que o pariram?
Eu assisti Marighella e ainda sinto o passado dentro de mim.