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Bandeira Fascista

“Partidos políticos, religiosos, em diversos países, interferem no funcionamento do Estado (que deve ser laico) e buscam benefícios que nada tem a ver com a esfera espiritual”, Jaime Pinsky, Historiador da USP.

Quem de nós não se lembra, nos dias da semana, à noite, aos sábados e domingos, nas ruas de qualquer cidade do Brasil, do crente ou evangélico lotando as igrejas com cantos e louvores que adentram até as madrugadas em cultos especiais? Era e é assim até hoje.

O Brasil é considerado a maior nação católica do mundo, mas que nas últimas quatro décadas vem dividindo espaço com as chamadas Igrejas evangélicas, conhecidas também como pentecostais ou neopentecostais. O aumento desse movimento cristão não passaria despercebido, se não fosse a intromissão desses grupos nas decisões de governamentais. A preocupação que fica no ar é: o que eles farão dentro do governo?

Em 2013 a onda conservadora começava a surgir nas manifestações de junho. Ao lado de pautas que afligem toda a sociedade e os vulneráveis. Junto a isso, outras pautas que envolvem os direitos civis estavam sendo questionadas. A partir desse ano, setores ultraconservadores começavam a ser organizar, aliando-se a políticos também ultraconservadores do tipo do atual presidente da República, JMB.

O presidente conseguiu nesse setor religioso “cristão” a base perfeita para a campanha de 2018, para a corrida presidencial. Em verdade que esses “cristãos” foram os mesmos que elegeram os últimos presidentes dos partidos dos trabalhadores. Devido à demonização das esquerdas, patrocinada pela mídia conservadora e “ cristã” tele-evangelista, esses cristãos ficaram desiludidos com os desalinhos da esquerda e a opção foi aderir ao discurso do ódio. Nas eleições de 2018, a bancada da bíblia formou o escrutínio fiel ao atual governo. Fora da câmara federal, há o lobby de pastores para pressionar o congresso a votar medidas conservadoras que poderão estar nos levando ao neo-período medieval europeu.


Márcio Roberto de Carvalho é ativista negro filiado ao PSOL e historiador pela UFPB


 


A narrativa bíblica da prisão, julgamento e condenação de Jesus, é intensa e cheia de elementos dramáticos que podem muito bem nos fazer refletir que aqui ou acolá injustiças acontecem às pessoas boas. Não me deterei na defesa teológica de que o fato ocorrido foi plano de Deus, nem advogarei que Jesus foi um preso político como muitos dizem, mas no próprio texto que deveria ser analisado pelos cristãos de hoje principalmente do Brasil.

Em primeiro lugar, Jesus o judeu, só foi identificado dentre alguns judeus à noite por causa do beijo indicativo de um amigo seu: o Judas de Queriote. O Iscariotes como conhecemos nos relatos ( não me deterei na problematização histórica acerca do personagem) fazia parte do círculo de discípulos de Jesus e vira seus milagres, ouvira seus maravilhosos sermões, acredita-se que ele mesmo tenha realizado alguns milagres com a autorização de Jesus. Judas tinha um cargo de extrema confiança era o tesoureiro do grupo ( outro problema: por que não Mateus?) e por conta dessa função desviava recursos do ministério de jesus. Com certeza Judas Iscariotes ganhou muito mais dinheiro usurpando a bolsa do que as trinta moedas pagas pelas autoridades religiosas.

Toda história tem o seu Judas Iscariotes, Joaquim José da Silva Xavier teve o seu, os índios que habitavam a América do Norte tiveram os seus. Todo revolucionário tem algum traidor entre seu grupo de amigos, muitos traídores estão dispostos a venderem sua amizade, seus ideais, a troco de ninharia. São esses Judas que estigmatizam um povo, um grupo, pessoas. Basta ver que hoje em dia poucas pessoas em nossa sociedade estão dispostas a colocarem o nome de seus filhos de Judas, mas se esquecem que havia um outro discípulo de nome Judas e que Jesus tinha um irmão ( esqueçamos as controvérsias teológicas com os católicos por favor) de nome Judas, e uma epístola do mesmo nome. A propósito, Judas é variação grega de Judá, que significa Louvor e que era o nome de um dos filhos de Jacó.

Nos getsemanes da vida é que as relações se estreitam, as amizades se firmam ou se esvaem. O que resta aos traidores é a consciência pesada de apoiarem o golpe, a traição, o que resta a eles é a corda enrolada ao pescoço e a perda de direitos conquistados.

Em segundo lugar, a peça acusatória era falsa. Que justificativas eles tinham para prender Jesus? O que se tinha como prova? A justificativa apresentada era religiosa. Ele falou contra a lei de Moisés, disse que destruiria o templo. Soa-lhe familiar? Deixa eu ajudar: “ se votarmos no PT ele irá fechar as igrejas”, “ Haddad é o anticristo, portanto o inimigo do povo de Deus”, “o PT vai perseguir os cristãos”, blá, blá, blá. Palavras são tiradas do contexto e torcidas a bel prazer dos difamadores, daí até uma pessoa boa como Jesus passa por malfeitora. As testemunhas falsas sabiam que estavam mentindo, elas receberam por isso. Foram elas que colaboraram para a aplicação do Lawfere contra Jesus, foram elas as divulgadoras de faknewes daquela época. O diferente assusta e para os vis sem argumento o que resta é a campanha difamatória, e assim Jesus foi levado à Pilatos.

Ao ser apresentado a Pilatos os religiosos da época não poderiam se apresentar com o argumento religioso, pois Pilatos não se metia em questões desse tipo ( quem dera nosso estado fosse laico!). Como raposas velhas que eram inventaram outra: “Ele se faz rei e só temos César como nosso rei”. A pseudo sinceridade não convenceu Pilatos, mas fazer o quê? Diante dele ( Pilatos ) estava um inocente disso ele tinha certeza. Cadê o advogado desse homem? Não tem, ele não tem direito a um advogado nem a um Habeas Corpus, só o de ficar calado e isso ele ficou. O que movia aqueles homens não era a convicção firme da fé judaica, nem a simpatia política por Roma, nem a preocupação com o povo. O que movia-lhes era a inveja, o ódio à simplicidade e a grandiosidade de Jesus de Nazaré.

O crime de Jesus foi dar vista aos cegos, fazer paralíticos andar, curar toda sorte de moléstias, multiplicar o pão a um povo que não precisa só ouvir um discurso bonito, mas de soluções concretas para as suas existências.

Por último, não podemos deixar de mencionar a omissão de Pilatos, que mesmo constatando a inocência de Jesus, lavou as mãos diante de uma turba ensandecida.Não há água que limpe as mãos sujas de sangue derramado pela omissão.


Márcio Roberto de Carvalho é ativista negro filiado ao PSOL e historiador pela UFPB

 


As teorias da conspiração ganham guarida na cabeça de alguns evangélicos que na tentativa de justificarem seu apoio a um governo genuinamente anti cristão tentam dar um toque de chamada divina a indivíduo que passa longe de ser cristão. Tem sido recorrente os telepregadores vociferarem contra as medidas de prevenção do Coronavírus, distanciamento, uso de máscaras e o lockdown. Vídeos em canais do youtube superabundam e as "denúncias'' e reivindicações orbitam a temática religiosa. Até a efetividade da vacina para o combate ao Covid-19 é vista com desconfiança pois trata-se de um “plasma com microchip”( feito por Bill Gates) para controle e redução populacional. Ora a lógica do capital é a manutenção de um exército de reserva de mão de obra para pagarem os piores salários e enriquecerem ainda mais os que detêm os meios de produção.

Lembro-me que em uma das campanhas de Eduardo Cunha e o pastor Edino Fonseca, foram distribuídos um cd onde eles denunciavam os planos do anticristo para o controle mundial. A candidatura deles representava essa frente de oposição. O conteúdo das denúncias eram suigeneris: 1) Controle da fonte das águas; 2) Plano de redução da população; 3) fechamento de igrejas, entre outras coisas. Ambos conseguiram se eleger.

Em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, o prefeito Washington Reis, disse que as igrejas evangélicas curam o Covid. Em São Paulo, o governador João Dória, embora tente aparentar ser o contraponto do Bolsonaro, disse em uma coletiva de imprensa que as igrejas prestam um serviço essencial.

Certo pregador evangélico orou por um irmão que estava com o covid, sendo ele curado, segundo o testemunho desse pregador. Porém, o interessante dessa história é que o pai desse, um pastor por volta de seus sessenta e poucos anos contraiu o covid e morreu em decorrência do mesmo.

Aqui na Paraíba, o prefeito de Cabedelo ( Vitor Hugo do Dem) conclamou a população para fazer jejum a fim de vencer o corona-vírus por meio da guerra espiritual. Muito conveniente para os governantes conclamarem jejum e oração para vencer o corona do que empreenderem reais esforços para vencer a situação pandêmica, sem esquecer que o Estado é laico!

Não existe fórmula mágica para a prevenção do Covid, o que existe é o trabalho em equipe de especialistas da área de saúde, não quero com isso, ridicularizar aqueles que possuem suas crenças há muitos religiosos sinceros, o que eu quero dizer é que a ciência e a religião não se contrapõem, são conhecimentos distintos e em alguns momentos complementares, reconhecido até mesmo pela Organização Mundial da saúde que em seu Relatório Geral em maio de 1984 na 37ª Assembleia Geral,

Reconhece que a dimensão espiritual tem um papel importante na motivação das pessoas em todos os aspectos de sua vida. Afirma que essa dimensão não somente estimula atitudes saudáveis, mas também deve ser considerada como um fator que define o que seja saúde. Convida todos seus Estados-membros a incluírem essa dimensão em suas políticas nacionais de saúde, definindo-a conforme os padrões culturais e sociais locais”

Todavia, somos obrigados a questionar o fato de que alguns líderes fazerem tanta objeção para fecharem suas igrejas mesmo em tempos tão tenebrosos de intensa contaminação com a doença que vitima líderes e liderados. Será que a religiosidade se limita a estar fisicamente em templo? Não há a possibilidade de orar em casa junto com seus familiares?

Precisamos de mais líderes religiosos como o Arcebispo Dom Manuel Delson Pedreira que suspendeu as celebrações presenciais até o dia 24 de maio, mostrando que a verdadeira fé é muito diferente do fanatismo religioso, ela se preocupa com o bem estar das pessoas.


Referências e dicas

TONIOL, Rodrigo. Atas do espírito: a Organização Mundial da Saúde e suas formas de instituir a espiritualidade. Anuário Antropológico, Brasília, UnB, 2017, v. 42, n. 2: 267-299.

https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/02/24/pb-prefeito-convoca-jejum-para-guerra-espiritual-contra-a-covid-19.htm

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/04/04/interna_politica,842421/bolsonaro-convoca-populacao-a-participar-de-campanha-de-jejum.shtml


Márcio Roberto de Carvalho é ativista negro filiado ao PSOL e historiador pela UFPB


 


Tiago 2.5 - Ouvi meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?

O texto acima leva-nos a refletir sobre a postura e o posicionamento de algumas denominações cristãs na atual conjuntura.Refiro-me aos católicos e os evangélicos, povo do livro sagrado chamado Bíblia, não ignoro às demais religiões como as de matrizes africanas como a umbanda e candomblé. O destaque é intencional e provocativo pois foi o uso de trechos da Bíblia que acalentou esperanças messiânicas que elegeram o atual presidente do Brasil.

Sobre o lema Brasil acima de tudo, Deus acima de todos, bem como a utilização de trechos isolados da Bíblia como “ conhecereis a verdade e verdade vos libertará” que embalaram a campanha presidencial carregada de fakenews, e uma defesa bastante demagógica dos valores cristãos e da família, servindo para pautar debates sobre direito contraceptivo das mulheres ( legalização do aborto), discriminalização das drogas e uma educação libertadora e crítica, não somente preocupada em preparar o indíviduo para o mercado de trabalho, mas também para o convívio social e uma sociedade mais justa.

Ao contemplarmos a narrativa bíblica salta-nos à vista o contraste da vida de Jesus e seus seguidores nos primeiros séculos em relação algumas lideranças de nossos dias, que ostentam grandes patrimônios angariados com a fé alheia e ilusão de um discurso que promete riquezas e glórias em um sistema opressor cuja existência depende do acúmulo dessas riquezas na mãos de uma elite econômica.

Jesus, o Verbo Divino, nasceu em uma pequena cidade chamada Belém, cresceu em Nazaré, cidade estigmatizada naqueles dias, escolheu se fazer pobre, sendo ele rico para que a humanidade fosse enriquecida, enfim, Deus e seu filho escolheram um lado, um partido.

O evangelho veio da periferia, das classes subalternas, daqueles que não possuem grandes bens, os despossuídos de riquezas materiais. Portanto, posso afirmar com toda a convicção que Deus escolheu um lado, então é no mínimo insensato aqueles que serem seus seguidores não se posicionarem ante a situação vexatória a qual o povo brasileiro tem passado, estão como Pilatos, lavando as mãos para não ficar mal com ninguém.

Sobre isso a conferência de bispos e bispas da teologia negra realizada em 1978 nos Estados Unidos vai dizer o seguinte:


“ Nossa leitura está focalizada na observação do lugar privilegiado dos pobres na Bíblia. De acordo com diferentes textos bíblicos ( por exemplo, Êx 22.20-23; Dt 10.16-19) Deus manifesta sua justiça, tomando o partido dos órfãos, das viúvas, dos estrangeiros contra seus exploradores( …)”


A tentativa de não se posicionarem politicamente por parte de alguns cristãos não é por estes acreditarem na necessidade da laicidade do estado, mas por eles já tomarem partido contrário aos pobres. Outra tentativa “pueril” de justificar a omissão é a busca de um discurso equilibrado, sem extremismo, seja de esquerda ou de direita. Ledo engano, pois o sagrado livro que muitos afirmam crer exorta a não ficarmos em cima do muro da dúvida, nem olhando na janela da contemplação, aos arautos do “deixa disso”, Jesus diria: “por não serem quentes nem frio vomitar-te-ei da minha boca”.

Os cristãos não podem se omitir, não podem fazer como a Convenção Batista Brasileira que se omitiram no momento tão crucial a qual estamos passando, em que o número de mortos da Covid já ultrapassou a casa dos 200 mil mortos e o Governo Federal de Jair Messias Bolsonaro tem levado na galhofa, usando e abusando do cartão corporativo, cometendo vários crimes de improbidade administrativa. Interessante que essa mesma convenção não utilizou o discurso da isenção quando foi para pedir o impeachment de Dilma Rousseff . De lá pra cá o que mudou mesmo?

Referências

Convenção Batista se diz apartidária

https://wwwibmi.blogspot.com/2021/01/a-novidade-da-convencao-batista.html?fbclid=IwAR1qkMmWLJyiEQZbQ9LWipIxC91rZqsgBcsk6ZOGKcLIvAIrD2hmbkjpt80

FRESTOM, Paul. Religião e Política, sim; igreja e estado não: Os evangélicos e a participação política. Viçosa, MG: Ultimato, 2006.

WILMORE, Gayraud S, CONE, Janes H. Teologia Negra. Tradução: Euclides Carneiro da Silva. São Paulo: Paulinas, 1986.

Márcio Roberto de Carvalho é ativista negro filiado ao PSOL e historiador pela UFPB