SÉRIE IMPRENSA PLURAL I: RACHEL SHEHERAZADE, O BOM E PURO FUNDAMENTALISMO EVANGÉLICO NORTE-AMERICANO.

Eu penso que a mídia deveria se posicionar claramente sobre a linha ideológica e política que segue.

Eu assisto Rachel Sheherazade, a jornalista paraibana que em tese gera um sentimento de orgulho aos seus conterrâneos por representar a Paraíba em tão ilustre exposição nacional, e cada vez mais reafirma em mim o sentimento de que não existe a tão aclamada neutralidade da imprensa.

Desde a sua ascensão ao SBT, motivada pela suas críticas contra o Carnaval, que a bem da verdade não discordo, é que Rachel vem mostrando nestas mesmas críticas o seu lado evangélico fundamentalista no bom estilo norte-americano. Com este lindo sobrenome, é até uma surpresa não é mesmo?

Uma jornalista que diz que é objetiva em ataques verbais que criticam o estado laico, que disfarça em suas críticas ditas corajosas um conservadorismo sem precedentes, é na verdade uma jornalista alinhada à uma prática profissional que se mistura sutilmente a pregações teológicas, muito comum no meio evangélico massificado e que ao mesmo tempo, tenta não mostrar muito seu verdadeiro ponto de vista.

Já que é assim, os jornalistas e os respectivos veículos de comunicação deveriam deixar claras as posições políticas e id(t)eológicas que defendem. Vou mais longe, acho que a Record é muito mais sincera neste quesito.

Não tenho nada contra um jornal ser de direita, esquerda, sustentável ou religioso, acho interessante que existam. Mas no caso de Rachel, por causa da força de suas críticas, é importantíssimo que fique claro que ela representa o ponto de vista do grupo de lideranças e da massa de evangélicos brasileiros, do qual ela faz parte.

Sou um homem de comunicação e como tal estou imbuído da minha responsabilidade social, responsabilidade jurídica e pela preservação de um estado democrático de direito. Hoje vejo uma América Latina construindo o Estado de bem-estar social, enquanto na Europa ele está sendo destruído. Na contra-mão, em prol de interesses conservadores, vejo algumas (não todas) lideranças da comunidade evangelica, que não se importam se vão contribuir para derrubar este estado de direito e sua ordem vigente, se suas id(t)eologias forem contrariadas.

Também sou cristão não-católico romano, em toda a plenitude da prática que a definição propõe. Sou membro convicto de uma igreja que defende tudo o que as Escrituras recomenta e manda. Mas não vejo e não entendo como teologizar meu trabalho. A não ser que então, eu seja um jornalista diretamente e publicamente ligado a estas instituições religiosas.

Afinal, mesmo sendo jornalistas, temos de seguir nossos princípios sim, mas respeitar a opinião alheia mesmo que não concorde, mas acima de tudo, sou a favor de um jornalismo laico, plural, respeitoso com as diferenças que a profissão destaca. A minha função é registrar a notícia e se for notícia polêmica, cumprir com o meu verdadeiro papel de jornalista, que é joga-la para o debate abertamente na sociedade de modo imparcial e democrático.

Claro que como cidadão e jornalista, não posso compactuar profissionalmente com as injustiças sociais, com o crime e com os desmandos de estado. Óbvio, sou um jornalista no estado de direito e sigo o código de ética da profissão baseado neste pleno estado de direito.

E é por isso que não sou contra Rachel Sheherazade externar sua posição pessoal como jornalista na mídia, sou contra é ela se disfarçar dentro de um jornalismo, que em tese é plural e corajoso nas ideias, dentro de uma emissora nacional, que não se propõe a defender fundamentalismos ou teses religiosas e que tem o compromisso de registrar os debates existentes na sociedade de modo imparcial e democrático.

Por causa destas atitudes da referida jornalista, é que atualmente eu percebo, que a crítica contra o Carnaval que a projetou nacionalmente, não foi uma crítica de tom sociológico e político, como cidadã esclarecida que se quis imprimir, mas secretamente de tons fundamentalistas religiosos, e que realmente faz parte da sua essência pessoal.

Não há como não reconhecer que a dialética que Rachel desenvolveu de modo inteligente e sutil, e que expõe suas ideias religiosas, ela inseriu brilhantemente no contexto jornalístico com um “aparente” discurso de origem genérica, e que para o telespectador que não conhece suas origens, recebe como sua própria reinvidicação e expressão de cidadania.

O que quer não quer dizer absolutamente que não seja... Percebem a sutileza...?
 
Não critico sua opção de Fé, é legítima. Somos uma democracia que defende a livre prática religiosa.

Mas nessa história de  "eu falo mesmo", há controvérsias. A meu ver, tudo não passa de um bordão de marketing.

Porque ela não denunciou a situação da imprensa na Paraíba, que ela conhece muito bem? Porque ela não denunciou jornalistas que recebem dinheiro do governo, jornalistas que são perseguidos pelo governo e estão desempregados ou jornalistas que são ameaçados de morte? Porque não denunciou empresas jornalísticas aqui que recebem fortunas do governo, e que as vezes falam mal do governo para pressionar exatamente esta situação? Porque não denunciou políticos daqui que ela conhece, aliás, todo mundo do meio conhece e sabe, que estão envolvidos na mais profunda corrupção, desfalques ao erário público e até mesmo envolvidos com grupos do crime organizado?

É muito fácil gritar contra o Carnaval, contra o Conselhos de Medicinas, etc. etc. Até porque nestas questões, mesmo ela sendo evangélica, acaba tendo o apoio poderoso da Igreja Católica. Não está pisando de verdade em terreno explosivo.

O interessante é sua defesa com relação ao Dep. Marco Feliciano, legítima claro, mas nem os meios evangélicos mais sérios deste país o aceitam na posição que está. E com relação a Feliciano defende a democracia, mas com relação ao debate sobre o aborto, a democracia não é mais relevante.

Quem visitar seu blog (http://rachelsheherazade.blogspot.com.br/), confirma. São 2 pesos, 2 medidas. Não sou a favor do aborto, mas é fundamental o debate sobre o tema existir em plena profundidade e o consenso na sociedade, gostando nós ou não, tem de predominar. Assim é a democracia.

A meu ver, é importante e imprescindível que Rachel deixe claro publicamente que suas críticas são exclusivamente  baseadas em suas opções e convicções de Fé. Porque para mim que sou Cristão, a transparência e a Verdade sim, são práticas que tem de estar inseridas em nosso dia a dia tanto profissional como pessoal.

Não somos obrigados a ser neutros como jornalistas em minha opinião. Mas formamos opinião e temos a obrigação  a mostrar quem somos de verdade, de onde viemos, para não corrermos o risco de enganar, mesmo que de modo involuntário, o leitor ou telespectador.

Sou plenamente a favor do sucesso mais que merecido de Rachel como jornalista. Isso é inquestionável para mim,   mas estou fazendo o contraponto, tão necessário na vida para todos nós, humanos falhos e por vezes injustos.

Disse Jesus: Eu sou a Verdade e a Vida. A Verdade vos libertará. O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus discípulos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas o meu reino não é daqui.

Se assim é, será que o Mestre precisa mesmo que saiamos contendendo uns com os outros, sobre questões  puramente seculares e terrenas para em tese, “defende-lo”, chegando por vezes em consequências inimagináveis, como a própria história já nos mostrou?

Fica aqui uma reflexão para todos nós.