E nada me convence o contrário de que é exatamente isso que ele quer.
Eliseu Mariotti
Jornal GGN |
Por Carolina Maria Ruy
Ataques, intimidação, cerceamento, manipulação da opinião pública, cooptação, forças que avançam para o outro lado do globo, disputas indiretas de poder. São temas que tomaram conta do noticiário neste início de 2022 e que muitos analistas comparam ao fim Segunda Guerra Mundial em 1945.
Mas não é preciso ir tão longe. Depois que os aliados decretaram a vitória sobre a aliança do eixo, colocando um ponto final no projeto nazista de Adolf Hitler, as práticas descritas acima voltaram-se para outros alvos, pavimentando um projeto de dominação dos Estados Unidos da América pelo mundo. Um projeto que se mantém sob as mesmas bases desde o lançamento de duas bombas atômicas no Japão.
A expansão e consagração da doutrina neoliberal contou não só com o militarismo ostensivo e implacável, mas também com o controle da indústria cultural e de comunicação, o que torna difícil a vida dos ocidentais que buscam uma visão crítica, realista e menos tendenciosa dos eventos. Resta a nós pesquisar, filtrar e interpretar.
Dito isso, para entender melhor a geopolítica dos últimos 77 anos sugiro a série “A Guerra do Vietnã – Um Filme de Ken Burns e Lynn Novick”. Com vídeos originais e riqueza de detalhes a série documental se aprofunda na história. Ela mostra a progressiva participação dos EUA no conflito. Revela mentiras que o governo sustentava e como eles tentaram de todo modo esconder dos conterrâneos os horrores promovidos pelo Exército como os repetidos lançamentos de Napalm em ataques aéreos, devastando aldeias inteiras e provocando efeitos ambientais sentidos até hoje, mais de 45 anos depois.
Interessante notar que entre 1955 e 1975, período em que se estendeu o conflito, passaram pelo governo americano presidentes democratas e republicanos, do badalado John Kennedy ao repulsivo Richard Nixon. Entre muitas outras coisas a série mostra que na Casa Branca sabia-se da derrota muitos anos do país se retirar e que eles mantiveram o Exército em combate “70% para não saírem humilhados, 20% contra a China e 10% pelo Vietnã” como afirmou um dos entrevistados.
Mostra também o massacre em My Lai, revelado ao público através das fotos de Ron Haerbele, gravações que expõe o desdém que Nixon tinha pelo Vietnã e a espetacular queda de Saigon.
Haerbele, o fotógrafo, desembarcou na aldeia de My Lai na manhã de 16 de março de 1968, junto com uma unidade do Exército. Em novembro de 1969 uma reportagem do jornalista Seymour Hersh driblou a tentativa do governo de encobrir o massacre e divulgou as fotos e os relatos sobre as forças americanas arrasando o vilarejo estuprando, torturando e matando a sangue frio centenas de civis, entre idosos, mulheres e crianças.
Aquele não foi o único caso desse tipo na Guerra do Vietnã, mas My Lai tornou-se emblemático por causa fotos chocantes de Haerbele. Passados 50 anos, em março de 2018, ele disse à revista Time que ouviu comandantes dizendo aos soldados que chegavam no Vietnã que a vida não tinha significado para os vietnamitas, que eles não eram humanos.
Mas, embora apresente todo o horror daquele triste episódio que marcou a segunda metade do século 20, o documentário reforça sua mensagem de pesar para os quase 60 mil soldados estadunidenses mortos, desprezando os mais de 1 milhão de vietnamitas que perderam a vida.
De qualquer forma é um material rico, bem organizado e que oferece um bom panorama cronológico. Se for bem lida a série deixará claro o caráter beligerante dos EUA quando o assunto é expandir seu poder em regiões muito distante de suas fronteiras.
No texto O Vietnã foi aqui (Revista Fapesp, julho de 2004) a jornalista Ruth Helena Bellinghini diz que “antes de oficializar sua presença militar no Vietnã, os EUA suprimiram todos os governos que, por linha política ou econômica, pudessem contestar de alguma forma seu ideário”. “Não é coincidência que o golpe militar no Brasil tenha ocorrido em 31 de março de 1964 e que a intervenção militar americana no Vietnã tenha início em agosto. Eles primeiro resolveram a situação da América Latina e partiram para a guerra aberta na Ásia”, diz.
Parte essencial desta política de dominação é manipular as informações. A história mostra que o ângulo das narrativas dominantes na imprensa ocidental muda dependendo de qual lado os EUA está. Se o país está atacando, as vidas de pessoas inocentes são relativizadas e a questão política é ressaltada. Se o país ou seus aliados estão sob ataque a cobertura ganha um enfoque mais intimista com o pretexto de despertar a compaixão humana contra o conflito. O tom da cobertura durante os 20 anos em que os EUA devastaram o Afeganistão, por exemplo, foi mais político do que humanitário.
Comparando a série às notícias atuais sobre o avanço das tropas russas na Ucrânia, vemos como o projeto de poder estadunidense se apoia na coerção de governos, no patrocínio de golpes de estado, na expansão geográfica de sua doutrina e no cerceamento de países pelos quais se considera ameaçado.
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical
Fonte: Jornal GGN
Membros do Batalhão Azov fazem uma saudação sieg heil (esquerda); Militares dos EUA com comandantes Azov em novembro de 2017 (à direita) |
Em novembro passado, uma equipe de inspeção militar americana visitou o Batalhão Azov na linha de frente da guerra civil ucraniana para discutir logística e aprofundar a cooperação. Imagens do encontro mostraram oficiais do exército americano debruçados sobre mapas com os neonazistas ucranianos, simplesmente ignorando os emblemas de inspiração nazista estampados em suas fardas. Azov é uma milícia que foi incorporada à Guarda Nacional Ucraniana e foi considerada uma das unidades mais eficazes em campo contra os separatistas pró-Rússia e agora contra o Exército Russo. É amplamente conhecido como um bastião do neonazismo dentro das fileiras dos militares ucranianos que tem sido criticado por em todo o mundo e são ligados a uma rede fascista internacional. De acordo com uma publicação alemã de esquerda, Azov mantém uma organização semi-oculta chamada “Misanthropic Division” que recruta maciçamente entre as fileiras de jovens neonazistas na França, Alemanha e Escandinávia. Os combatentes estrangeiros recebem a promessa de treinamento com armas pesadas, incluindo tanques, em campos ucranianos lotados de fascistas semelhantes. Eles ainda incluem veteranos militares como Mikael Skillit, um ex-atirador do exército sueco que se tornou voluntário neonazista para Azov. “Depois da Segunda Guerra Mundial, os vencedores escreveram sua história”, disse Skillit à BBC. “Eles decidiram que é ruim dizer que sou branco e que tenho orgulho disso.” Os Voluntários estrangeiros da Azov são atraídos pelo chamado da “Reconquista”, que é a missão de colocar as nações do leste europeu sob o controle de uma ditadura supremacista branca modelada após a ditadura nazista do Reichskommissariat que governou a Ucrânia durante a Segunda Guerra Mundial. A missão é promovida efusivamente pelo principal ideólogo de Azov, Andriy Biletsky, um veterano fascista que lidera a Assembleia Nacional Social no parlamento da Ucrânia. A assembléia de Biletsky prometeu proibir as relações inter-raciais e prometeu “preparar a Ucrânia para uma maior expansão e lutar pela libertação de toda a raça branca da dominação do capital especulativo globalista”. Enquanto mobiliza a juventude racista em toda a Europa, e contadno com a maioria absoluta do povo ucraniano, a Azov também conseguiu promover um intenso relacionamento de boa convivência com os militares americanos. Em uma foto postada no site de Azov em novembro passado, um oficial militar americano pode ser visto apertando a mão de um oficial de Azov cujo uniforme foi estampado com o emblema de Wolfsangel de inspiração nazista que serve como símbolo da milícia. A pergunta é: Os EUA/OTAN tem um plano de expansão e hegemonia mundial que inclui o modelo de ditaduras fascistas com perfil nazista? As imagens destacaram um relacionamento florescente entre militares americanos e a Azov, que tem sido amplamente conduzido em segredo, mas cujos detalhes perturbadores estão surgindo lentamente. Embora Washington não tenha embarcado em nada na Ucrânia como o programa de treinamento e equipamento de bilhões de dólares que implementou na Síria para promover a mudança de regime por meio de uma força substituta dos chamados “rebeldes moderados”, há semelhanças claras e perturbadoras entre os dois projetos. Assim como as armas pesadas ostensivamente destinadas ao Exército Sírio Livre, apoiado pela CIA, foram direto para as mãos das forças insurgentes salafistas-jihadistas, incluindo o ISIS , as armas americanas na Ucrânia estão fluindo diretamente para os extremistas de Azov. E mais uma vez, em sua determinação obstinada de aumentar a pressão sobre a Rússia, Washington parece disposto a ignorar as orientações políticas inquietantes de seus representantes da linha de frente. Ou seja, o Departamento de Estado e a (des)inteligência americana não aprenderam nada com a Al Qaeda, o Taleban, o Isis, e agora a Azov. Hegemonia a qualquer preço, violando tratados e soberanias, gerando derramamento de sangue de milhares, destruindo país e suas economias, assassinando governantes e generais, etc. etc. Nos últimos meses, um amplo espectro de observadores da guerra civil ucraniana documentou a transferência de armas pesadas feitas nos EUA para o Batalhão Azov e bem debaixo do nariz do Departamento de Estado dos EUA. Na verdade, talvez tenha sido uma orientação do Próprio Deparamento de Estado. Mais uma vez, os EUA estão criando cobras venenosas. Só que desta vez, procuram atingir uma potência militar e nuclear, que em vários setores da tecnologia de guerra, está bem a frente do Pentágono. E nesse caso, o tiro pode sair pela culatra, ou seja, um míssel nuclear por cair bem nos jardins da Casa Branca. Eliseu Mariotti |
RFI
Paris (França)
Foto: Pragmatismo Político |
Olavo de Carvalho afirmou nesta segunda-feira (20) que foi usado por Jair Bolsonaro como “poster boy” para “se promover e se eleger”. Segundo o escritor, “a briga já está perdida”. A declaração foi dada durante uma live que contou com a participação de Ricardo Salles e Abraham Weintraub.
Esse texto do Makely Ka, músico ligado a produção cultural e gestão pública em MG, é muito interessante e trata da suposta polêmica criada por alguns personagens já carimbados, com a eleição de Gilberto Gil, na Academia Brasileira de Letras.
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