A MISOGINIA BÍBLICA DA CRIAÇÃO E PREVALÊNCIA ETERNA DA MULHER NA SALVAÇÃO DA HUMANIDADE


Como admirador e seguidor de Jesus Cristo, sempre cri que a Bíblia Ocidental em suas várias e contraditórias traduções continham a Palavra do Criador e o registro de outros deuses. Nunca em minha vida consegui ver este livro como a infalível Palavra de Deus em sua totalidade, mas há em mim a certeza de que é portadora de tais Palavras Divinais. 

No máximo vejo ali uma permissão divina e maior do que o homem para que se imprimisse determinados registros da história da humanidade e da história divina neste mundo, porque ainda não nos foi permitido escrever a de outros mundos.

Creio que este meu texto irá provocar reações em líderes religiosos, romanos, reformistas, pentecostais ou neopentecostais não muito favoráveis, ou talvez não, porque uma criação que foi criada para ser dominada como escrava, com certeza sempre usou o Livro Sagrado, porque apesar de tudo, é Sagrado, para dominar e escravizar seus semelhantes. Principalmente no campo do domínio da mente.

Não acredito no tradicionalismo religioso, não acredito em sacrifício de vida animal ou humana aos deuses que amam a humanidade, não acredito em sacrifício pelo Pecado Original, porque para este Cristo já fez o sacrifício definitivo, com batismo ou sem batismo. Porque a Salvação e a Imortalidade da alma vem primeiro pela Fé, como primeiro requisito para receber tão divina Graça.

"Vai em Paz. A tua Fé te salvou."

Quantas vezes lemos essa frase do Cristo nos Evangelhos?

E como puderam aqueles que se dizem ungidos pelo Espírito Santo esquecerem tão facilmente desta premissa?

A Fé não habita na intolerância ao próximo, portanto não habita no sexismo, na homofobia, no racismo, na xenofobia, nos "diferenciados" de classe, na falta de respeito a outras profissões de Fé, mesmo que contradigam a que professamos.

A Fé não habita nestas distorções, estas sim, os verdadeiros pecados originais, e não a manifestação do Amor que foi colocada na natureza humana.

Creio que a maioria dos leitores conhece a história do sapo que deu carona ao escorpião, e que quando chega a outra margem do rio, o escorpião o pica, justificando cinicamente que era de sua natureza.

Então se é da natureza humana que pratiquemos o sexismo, a homofobia, o racismo, a xenofobia, os "diferenciados" de classe, a falta de respeito a outras profissões de Fé e a insistência no domínio escravista de nossos semelhantes, então nosso Criador biológico de fato não era tão perfeito assim.

Blasfêmia? Jamais!

Não estou afirmando tão peremptoriamente, mas me dando o direito de exercer o livre arbítrio, aliás que nos foi dado para exercer nossas escolhas, mesmo o Criador sabendo de nossas qualidades escorpianas. 

Porquê Ele correu esse risco?

No Velho Testamento, apesar da teologia acadêmica afirmar com teses absolutamente sem consistência que eram apenas um com nomes diferentes e que estes eram os criadores da humanidade, há dois deuses. Um era Jeová e o outro Javé, e todos os dois tem sua versão de nomes impronunciáveis pela nossa capacidade fonoaudiofalante.

E a Fé Judaica passou a ser mais maniqueísta, após o povo judeu ter sido levado cativo para a Babilônia e ter absorvido elementos do Zoroatrismo. Isso é claramente mostrado na Bíblia.

Maniqueísmo é a relação teológica das religiões na polarização do bem e do mal.

Então eu pergunto: O Deus do Velho Testamento é o mesmo do novo? Ou Pedro e Paulo insistiram em relacioná-los na Nova Aliança, depois da Assembléia de Jerusalém?

Eu vou escrever o que creio e também creio não ofender Aquele a Quem sirvo, não como escravo de Cristo no estilo pauliniano ou como um eunuco espiritual, Porquê está escrito que a Verdade nos libertarás. E se vivo na Verdade, sou liberto, portanto jamais seria escravo de Cristo como Paulo, mas como amigo e irmão mais novo de Cristo adotado por Deus a partir do sacrifício na cruz pelo Emmanuel.

Não sou melhor que Paulo, mas sou Cristão, não Pauliniano. Não foi o sangue de Paulo que me resgatou do mundo dos mortos. 

Mas, ora, se todos somos criação de Deus, porque então somos adotados? Você só é adotado por aquele que não é seu pai de Verdade. 

Na Bíblia, o entendimento é que todos que aceitam a Cristo como Senhor e Salvador, são feitos filhos de Deus (João 1:12). Esse é o maior exemplo de adoção por amor (Efésios 1:5). 

Maior exemplo de adoção?

Tem mais, esse então me deixa de queixo caído:

"Éramos filhos do inimigo de Deus (João 8:44) e, mesmo assim, Ele nos amou, perdoou e nos adotou como Seus filhos..."

Eu era filho do inimigo de Deus? Então o meu Criador era inimigo de Deus...

Quando Jesus se dirigia aos fariseus que vinha contender com Ele, vale lembrar que os Saduceus eram agnósticos, seu foco era político, Jesus dizia:

"Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. João 8:44"

Nem me preocupo, os teólogos virão com suas teses ajeitadas explicar o meu questionamento. Ou então nem se darão ao trabalho. Mas a Verdade é que os Fariseus seguiam a religião ortodoxa judaica, e Jesus chamou o pai deles de diabo. 

Há algo de podre no reino da Dinamarca.

Essa foi só uma introdução ao assunto principal deste texto: A Misoginia. Essa introdução busca mostrar as contradições bíblicas a Luz do Espírito e execrando o academicismo teológico, que na verdade não passa de medíocre manifestação da sabedoria humana. Encontrei muitos teólogos assim na Igreja Presbiteriana e na Igreja Católica. 

Mas são várias as denominações que massificaram uma teologia evangélica e também a católica, que buscou a manifestação carismática, motivados apenas pelo interesse em angariar grandes quantidades de membros em favor de um mercado religioso, a exemplo daqueles que Jesus expulsou do Templo.

Entre as piores manifestações de intolerância entre os reformistas, evangélicos e católicos é contra a mulher. Isso é Misoginia, que especificamente no terreno religioso quer dizer aversão ou ódio a mulher.

No texto de Isabela Garrido, uma mulher evangélica, no Brasil, a cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas; a cada 11 minutos, 1 mulher é estuprada; e a cada 90 minutos, 1 mulher é assassinada. Esses dados foram disponibilizados pela Agência Patrícia Galvão, criada para produzir notícias e conteúdos sobre os direitos das mulheres brasileiras. 

E o que é que a igreja evangélica tem a ver com isso? Absolutamente tudo! 

Porque mulheres crentes também são vítimas de violência doméstica; porque homens crentes também praticam atos de violência contra suas mulheres; e porque a igreja, infelizmente, muitas vezes tem agido como cúmplice no meio de tudo isso. Como membro da igreja evangélica brasileira, me dói ter que admitir essa triste e vergonhosa realidade, mas não dá para negá-la. São palavras dela que faço minhas.

O discurso fundamentalista e a postura inflexível de muitas igrejas sobre o divórcio se transformam em um meio de opressão para milhares de mulheres que vivem em situação de risco por estarem expostas à violência doméstica. 

Muitas igrejas afirmam permitir o divórcio em casos de agressão física, mas pecam por não levar em consideração a violência verbal e psicológica que, em muitos casos, precedem-nas. 

Ainda segundo Isabela, Outro tipo de violência muito comum nas igrejas é o estupro de mulheres pelos seus próprios maridos. A orientação de Paulo em 1 Co 7:4 é distorcida e utilizada para justificar esse ato, pois alegam que se o corpo da mulher pertence ao marido, então ela não pode recusar o sexo em hipótese alguma. 

Esquecem que a mesma passagem diz que o corpo do homem também pertence à esposa e que Paulo em nenhum momento fala que a recusa ao sexo por parte de um dos cônjuges deve ser resolvida à força. Esse tipo de violência é ainda mais difícil de ser detectado. 

Raramente as mulheres falam sobre isso com alguém e, em muitos casos, elas sequer sabem que estão sendo vítimas de estupro. Afinal de contas, foi o seu marido, né? Elas acreditam na história de que seu corpo não lhes pertence, segundo a interpretação errada e distorcida da fala de Paulo.

O próprio texto de Isabela Garrido, que escreve para o site "Tem Mulher na Igreja", vem corroborar o meu texto introdutório sobre a visão dúbia e inescrupulosa que muitos líderes religiosos tem sobre as Escrituras. Com relação a mulher, são absolutamente machistas e usam a Bíblia Sagrada para dominá-la sem nenhum respeito para com sua individualidade e atitudes cristãs femininas, ou feministas. Como queiram.

Só para começar, a nossa Genêsis bíblica ultrapassa qualquer definição machista que se possa dar a um texto sobre a criação da mulher. Não fazem menção nenhuma a textos antigos hebraicos que falam sobre uma mulher criada antes de Eva do mesmo material de Adão e não da sua costela. 

Seu nome é Lilith. Enfim, ela se revolta contra o machismo estrutural de Adão e vai embora do Éden por livre e espontânea vontade e aí, talvez, aqui esteja no campo da especulação, mas a Fé judaica é machista, e então Lilith vai ao deserto, se junta com o capiroto e cria todos os dias milhares de demônios para atormentar a terra e seus habitantes. 

Cá entre nós, só uma dezena de homens possuídos pelos demônios já provocam um estrago considerável no planeta.

Em seguida, da costela de Adão sai Eva, submissa, mas que leva ao homem a sua própria queda e desde os tempos do Moisés deuteronômico, a mulher tem que carregar este enorme peso e culpa.

É a tese tardia do cordão umbilical que não se rompe nunca. Por si só o homem não peca, não erra. Uma mulher tem que leva-lo a isso. Mas com Adão não havia cordão umbilical, e Eva não era mãe de Adão...

Fica o simbolismo mais perverso com relação a mulher na história humana.

Mas enfim, desde o início a mulher está em desvantagem nas religiões judaicos-cristãs, islâmicas e hindus. Sem fazer apologias, evoco aqui, esqueçam questões políticas ideológicas do século XX/XXI, as "mitologias" sumerianas, acádias, gregas, germânicas, nórdicas e celtas. Nelas, as mulheres tem um papel central na sociedade como guerreiras, agricultoras, navegadoras e de mães, seguindo uma atribuição da Grande Mãe. 

E sem deixar de existir o Deus central, criador, masculino, não há de modo algum uma diminuição do feminino na divindade. Pelo contrário, há um papel fundamental da mulher nestes panteões.

E até mesmo, no início da religião dos hebreus, o Deus bíblico do velho testamento, tem uma deusa a seu lado. Com os levitas mosaicos, essa deusa se torna pagã e é divorciada do seu Deus exclusivo. 

A pergunta não respondida e a Bíblia não tem todas as respostas para ela é: Porquê os Cristãos renegam as suas mulheres o legítimo direito de escolha, de missão por igual e muito mais, do ministério que Cristo deu as mulheres que o cercavam?

"Bendito é e será entre as mulheres."

Porque realmente não seguimos a Cristo em vez de ficarmos inventando artifícios teológicos muito bem estruturados em teses que empurram a janela construída em lugar errado onde o sol não passa, para onde o sol brilha?

É construção mal feita.

Não é mais fácil construir a janela onde o sol brilha? O Sol da Justiça? No lugar certo?

Por fim, afirmo e reafirmo que esse texto é em defesa absoluta das mulheres cristãs e das que não são também. 

Porquê, na visão da História humana, nas Escrituras Sagradas e na minha própria, as mulheres sempre prevaleceram e sempre prevalecerão.

Porquê?

Simples.

Elas são as mães da humanidade, dos homens e de si mesmas. Sem elas não haveria vida de acordo com a natureza do Criador. Elas não são o escorpião, elas dão a vida, mas podem picar com um poderoso veneno também para se defender.

Mais? Pois vai e não reclame, seu machista:

Sem uma Mulher, Jesus Cristo não teria vindo a este mundo.

Fiquem na Paz de Deus.


Eliseu Mariotti é Jornalista, Músico, Publicitário, Programador, Editor deste Blog e do Projeto Democracia Sempre