AS DUAS FACES DE UMA FRAUDE FASCISTA



Numa reedição de artigo já publicado neste blog, antes das eleições, faço uma reanálise do perfil do presidente Bolsonaro, alterando conjugações verbais cronológicas e acrescentando algumas atualizações para demonstrar que Bolsonaro não é esse discurso ideológico que vomita a cada dia, e que não passa de um chefe de quadrilha.

O golpe conspirado por Michel Temer, Eduardo Cunha e Aécio Neves, em conjunto com a mídia, os EUA e o judiciário, resultou numa aberração política que pariu Jair Bolsonaro para presidente. É como se em Brasília estivéssemos assistindo um remake de “Alien – o oitavo passageiro”.

A guinada radical a direita protagonizada pelo PSDB, o papo furado da boçalidade paulistana contra o bolivarianismo, a corrupção, o financiamento de pseudos “movimentos de rua” e a obsessão da imprensa, puxada pela Globo, contra Dilma, Lula e o PT, e que resultaram na viabilização de um fascismo tropical, monstrengo e incoerente.

Claro, escrevo isso tentando imaginar que fosse possível a improvável possibilidade de um fascismo que não tivesse estas características. Força de expressão, então.

Bolsonaro é uma fraude. E Dória surgiu espelhando-se nele como seu modelo político. Um modelo truculento e irracional. Dória é uma fraude por vários motivos, um deles é tser um clone fiel de seu mestre máximo, mas que também é seu rival direto. Só que ao contrário de Dória, bem informado e preparado para o crime, Bolsonaro é uma fraude ignara, portanto mais perigosa e presente.


Por suas ações descabidas e anti Brasil, Bolsonaro tem hoje uma parcela muito menor daquele eleitorado que o elegeu, e que está bem longe de ser maioria, mas que não pode ser relevada e subestimada. Na cabeça da maioria dos analistas progressistas, essa trupe de fãs bolsonaristas vive entre o sentimento de decepção e frustração e o fanatismo, porque, na realidade o presidente ainda não foi confrontado definitivamente e se for, sairá um anão político bem menor do que quando entrou no Planalto.

Isso sem falar nos processos e investigações que sofrerá pelos crimes que já cometeu como mandatário desta nação.

Uma coisa é certa, cedo ou tarde, pelo voto ou não, sua queda é certa e trágica. A história não cometeu exceções com líder fascistas.

Mas não podemos fechar os olhos e tenho uma forte tendência em concordar com essa tese, de modo algum podemos subestimar o suposto crescimento que Bolsonaro vem experimentando com o auxílio emergencial. Isso seria muito perigoso.

Mesmo assim, tendo a apoiar a tese de Alberto Carlos Almeida, diretor do InteliGov e do Instituto Análise e ex-articulista do Valor Econômico, também autor do best-seller “A cabeça do Brasileiro” e diversos outros livros, e que coloca essa questão da seguinte forma antes da eleição de 2018:

“Há quem acredite que a experiência fascista não é viável em um país tropical. Aqui a malemolência, o jeitinho e o primado das relações pessoais sobre as impessoais impede a perseguição aberta e generalizada de grupos de pessoas com base em suas características adscritas ou mesmo suas escolhas de vida.

Assim, nosso preconceito é velado, é cordial, o que falamos um dia não fazemos no dia seguinte, a rejeição verbalizada a um transexual não se materializa em seu isolamento ou rejeição social. Isto é, nós brasileiros somos capazes de rejeitar um comportamento ou escolha social, e mesmo assim sermos amigos de seu portador.

A coerência não é nosso forte. Aliás, estamos bem longe dela, e isso nos afasta de qualquer coisa que flerte com o que se convencionou chamar de fascismo. Em suma, o Brasil está muito mais próximo de uma Itália do que de uma Alemanha. Aqui, até mesmo o autoritarismo seria brando. Se tudo isto é verdade, muitos indagam por que Bolsonaro vem tendo tanto sucesso. Me arrisco a afirmar que isto ocorre porque ele ainda não foi confrontado com o país tropical. ”

A ascensão da extrema direita no Brasil mostra a lucidez e a pontaria de Alberto Carlos.

Mas o fato inegável é que Bolsonaro é uma fraude. Ele ocupa o trono do fascista brasileiro, mas não é esse fascistão todo, nos estilos mussolini, hitleriano, ou até mesmo stalinista, que foi o fascismo pela esquerda.

Afinal, sou a la esquerda, mas tanto a esquerda como a direita tem também seus modelos de fascismo. Fascismo não tem cor, cara ou ideologia. Fascismo é intolerância ao divergente, ao contraditório. O Fascismo é em si mesmo, impositivo e antropofágico. Em qualquer campo político ou social.

E a verdade, é que Bolsonaro nunca passou de um político oportunista, do baixo clero, nos moldes tradicionais, que se aproveita de uma imagem de extrema direita linha dura para consolidar sua candidatura a presidência da República.

Mas, Bolsonaro, é covarde, opera atrás de uma muralha formada por seguidores fanáticos, estes sim, com características de um integralismo histórico e ameaçador e das milícias que sua família controla no Rio de Janeiro, cujo modelo tem tentado se espalhar pelas forças de segurança pública pelo país.

Claro que absolutamente, sua covardia e uma imagem construída de modo fraudulento esconde o fato claríssimo das marcas de seu conservadorismo homofóbico, machista, intolerante e tal. Mas com certeza essas suas características não o impede de dar apoios ou fazer alianças bem pragmáticas.

Ora, Bolsonaro vem do baixo clero no Congresso, exatamente do lugar que o Centrão ocupa. Portanto, novidade nenhuma ele recorrer e se aliar às suas origens para não sofrer impedimento ou um de filhos serem presos.

Bolsonaro é uma fraude fascista, ele não passa de uma chefe de máfia, sem o romantismo e o glamour do Scorsese, sua ideologia é típica de um bandido de cartel que se traveste de uma roupagem que não lhe corresponde para obter vantagens dentro do sistema institucional.

Bolsonaro surfou na criminalização de Lula e da esquerda. É, como Trump, uma espécie de outsider (de mentirinha, claro, mas engana trouxa). A extrema direita, que não tem medo de dizer seu nome, está apostando numa canoa com um furo no casco.

O que muita gente não lembra, inclusive os próprios fãs de Bolsonaro, é que em 2002, ele votou em Ciro Gomes no primeiro turno e no segundo votou em Lula. Ou seja, uma opção de dois turnos pela esquerda no seu voto para presidente.

Votou e apoiou exatamente quem sabia que iria ganhar de modo oportunista. Não há toa, ele e Temer tem tantas afinidades, de subserviência e viralatismo na entrega de nossa soberania e riquezas aos EUA.

Os dois como presidentes destruíram nossa economia e o Estado Social muito mais do que qualquer Pandemia poderia ter feito.

Em 2001, apareceu de surpresa na Granja do Torto para fazer lobby pela indicação do deputado comunista Aldo Rebelo (SP) para a Defesa.

"Vim tentar um espacinho na agenda do Lula para desmentir essa história de que o Aldo tem restrições nas Forças Armadas. Pelo contrário, é uma pessoa que entende do assunto e tem grande respeito",

Segundo Bolsonaro na época, ao contrário do seu discurso radical e fraudulento de hoje não é estranho um representante histórico da direita trabalhar em favor de um esquerdista.

Isso faz a terra tremer nos dias fascistas hoje.

O que a trupe fascistóide de Bolsonaro acha disto?

Com a palavra, os repolhos pensantes da “nova” direita brasileira. Escolheram Bolsonaro como ícone de seus vazios cerebrais e de alma.

Na campanha para presidente, Bolsonaro foi ao programa de Danilo Gentili, o repolho “porta-voz” dos repolhos faz algumas perguntas para o Capitão repolho e o resultado foi o que se deve esperar ouvir de um repolho que tenta pensar.

Alguns trechos:

-Como candidato a presidente, você já tem um princípio de plano?

-“Isso ninguém tem, né?”

-Então me explica, por que alguém deve votar em Bolsonaro para presidente?

-“Eu sou uma pessoa autêntica. As minhas propostas podem ser até pior (sic), mas são completamente diferente (sic).”

-O que garante que você não irá copiar alguns modelos do regime militar que você elogia?

-“Na Educação, vai ser convidado um general que já tenha um comando de colégio militar”.

- Você tem muitos opositores, talvez uns 80, 90% de Brasília é opositor seu. Se você for presidente, como é possível governar com tanta oposição?

“Nós vamos ter mais gente de direita no parlamento. (…) E eu acho que economia vai estar tão debilitada até lá que teremos que partir do zero”.

Ou seja, Bolsonaro nunca teve nada a oferecer. Aposta no quanto pior melhor para benefício próprio e nunca teve um projeto para o país. Basta ver as confusões em que se mete todos os dias. A última é a guerra das vacinas, em que virou uma peteca que muda de opinião a cada minuto, pressionado pelos militares, pelos EUA ou pelos seus repolhos fanáticos.

Temos de estar atentos e partir do discurso para a ação. O que o fascismo tem de vazio, inconsistente, também tem de perigoso e a sua intolerância característica é uma identidade e prática do regime vigente.

Pior do que o fascismo real, se é que isso é possível, é o falso fascismo.

3 hurras para o Capitão Repolho (espero que os repolhos, os vegetais, claro, não se ofendam com essa cruel e depreciativa analogia). O falso fascista que votou na esquerda 2 vezes e apoiou um comunista para o Ministério da Defesa.

Esse é o verdadeiro Bolsonaro.

Verdadeiro? Há controvérsias.