O golpe conspirado por Michel Temer, Eduardo Cunha e Aécio
Neves, em conjunto com a mídia, resultou numa aberração política que
pariu Jair Bolsonaro para 2018. É como se em Brasília estivéssemos assistindo
um remake de “Alien – o oitavo passageiro”.
A guinada radical a direita protagonizada pelo PSDB, o papo
furado da boçalidade paulistana contra o bolivarianismo, a corrupção, o
financiamento de pseudos “movimentos de rua” e a obsessão da imprensa, puxada
pela Globo, contra Dilma, Lula e o PT, resultaram na viabilização de um
fascismo monstrengo e incoerente.
Claro, escrevo isso tentando imaginar que fosse possível a
improvável possibilidade de um fascismo que não tivesse estas características.
Força de expressão, então.
Bolsonaro tem hoje uma parcela do eleitorado, que ainda está longe de ser maioria, mas que não pode ser relevada e subestimada. Na cabeça da maioria
dos analistas progressistas, essa trupe de fãs bolsonaristas pode ficar
decepcionada porque, na realidade o deputado ainda não foi confrontado e pode
sair da campanha para presidente em 2018 menor do que entrou.
Tenho uma forte tendência em concordar com essa tese, mas de
modo algum podemos subestimar o crescimento sutil que Bolsonaro vem
experimentando. Isso seria muito perigoso.
Mesmo assim, tendo a apoiar a tese de Alberto Carlos Almeida,
diretor do InteliGov e do Instituto Análise e ex-articulista do Valor
Econômico, também autor do best-seller “A cabeça do Brasileiro” e diversos outros
livros, e que coloca essa questão da seguinte forma
“Há quem acredite que
a experiência fascista não é viável em um país tropical. Aqui a malemolência, o
jeitinho e o primado das relações pessoais sobre as impessoais impede a
perseguição aberta e generalizada de grupos de pessoas com base em suas
características adscritas ou mesmo suas escolhas de vida.
Assim, nosso
preconceito é velado, é cordial, o que falamos um dia não fazemos no dia
seguinte, a rejeição verbalizada a um transexual não se materializa em seu
isolamento ou rejeição social. Isto é, nós brasileiros somos capazes de
rejeitar um comportamento ou escolha social, e mesmo assim sermos amigos de seu
portador.
A coerência não é
nosso forte. Aliás, estamos bem longe dela, e isso nos afasta de qualquer coisa
que flerte com o que se convencionou chamar de fascismo. Em suma, o Brasil está
muito mais próximo de uma Itália do que de uma Alemanha. Aqui, até mesmo o
autoritarismo seria brando. Se tudo isto é verdade, muitos indagam por que
Bolsonaro vem tendo tanto sucesso. Me arrisco a afirmar que isto ocorre porque
ele ainda não foi confrontado com o país tropical. ”
Mas o fato inegável é que Bolsonaro é uma fraude. Ele não é
esse fascistão todo, cheio de convicção, intolerância, macheza e etc. etc....
Na verdade, ele não passa de um político oportunista nos
moldes tradicionais, que se aproveita de uma imagem para consolidar sua candidatura
a presidência da República.
Claro que absolutamente, isso não quer dizer que ele não
seja conservador, homofóbico, machista, intolerante e tal. Mas com certeza
essas suas características não o impede de dar apoios ou fazer alianças bem
pragmáticas.
Bolsonaro surfou na criminalização de Lula e da esquerda. É,
como Trump, uma espécie de outsider (de mentirinha, claro, mas engana trouxa).
A extrema direita, que não tem medo de dizer seu nome, está apostando numa canoa com um furo no casco.
O que muita gente não lembra, inclusive os próprios fãs
de Bolsonaro, é que em 2002, ele votou em Ciro Gomes no primeiro turno e no
segundo votou em Lula. Ou seja, uma opção de dois turnos pela esquerda no seu
voto para presidente.
Mais ainda, apareceu de surpresa na Granja do Torto em 2001 para
fazer lobby pela indicação do deputado comunista Aldo Rebelo (SP) para a
Defesa.
"Vim tentar um espacinho na agenda do Lula para desmentir essa história de que o Aldo tem restrições nas Forças Armadas. Pelo contrário, é uma pessoa que entende do assunto e tem grande respeito",
Segundo Bolsonaro, não é estranho um representante histórico
da direita trabalhar em favor de um esquerdista.
Então?
O que a trupe fascistóide de Bolsonaro acha disto?
Com a palavra, os repolhos pensantes da “nova” direita
brasileira.
No programa de Danilo Gentili, o repolho “porta-voz” dos
repolhos faz algumas perguntas para o Capitão repolho e o resultado foi o que se deve esperar ouvir de um repolho que tenta pensar.
Alguns trechos:
-Como candidato a presidente, você já tem um princípio de
plano?
-“Isso ninguém tem, né?”
-Então me explica, por que alguém deve votar em Bolsonaro
para presidente?
-“Eu sou uma pessoa autêntica. As minhas propostas podem ser
até pior (sic), mas são completamente diferente (sic).”
-O que garante que você não irá copiar alguns modelos do
regime militar que você elogia?
-“Na Educação, vai ser convidado um general que já tenha um
comando de colégio militar”.
- Você tem muitos opositores, talvez uns 80, 90% de Brasília
é opositor seu. Se você for presidente, como é possível governar com tanta
oposição?
“Nós vamos ter mais gente de direita no parlamento. (…) E eu
acho que economia vai estar tão debilitada até lá que teremos que partir do
zero”.
Ou seja, Bolsonaro nada tem a oferecer. Aposta no quanto pior melhor para benefício próprio e não tem um projeto para o país. Tentará se eleger apoiado
numa suposta imagem “autêntica” que não é real e com certeza, não conseguirá
ter o mínimo de articulação política para governar. O que a bem da verdade,
fico na dúvida se isso será bom ou não, numa improvável vitória do Capitão
Repolho.
Não creio que Bolsonaro venha a sequer passar para o segundo
turno em 2018. Mas temos de estar
atento. O que o fascismo tem de vazio, inconsistente, também tem de perigoso e a sua intolerância característica passará a ser uma identidade e prática do poder vigente.
Pior do que o Fascismo real, se é que isso é possível,
é o falso fascismo.
3 hurras para o Capitão Repolho (espero que os repolhos, os vegetais, claro, não se ofendam com essa cruel e depreciativa analogia). O falso fascista que votou
na esquerda 2 vezes e apoiou um comunista pra presidente.