O LEGADO DE CORRUPÇÃO DO REGIME MILITAR. O ENGANO DE UMA MINORIA EM CRER QUE OS MILITARES SÃO A SOLUÇÃO


Depois de assistir somente nesta semana, pelo menos 3 generais falarem sobre uma possível intervenção militar, dentre eles o mais importante, o General Villas-Boas, comandante do Exército Brasileiro, resolvi escrever um texto a respeito da ilusão que muitos desavisados, muitos sim, mas ainda assim, uma minoria, nutrem por uma intervenção militar e vou tentar tirar pelo menos em parte a cortina que ainda cobre a época do regime.

Nos últimos 4 anos estamos convivendo com grupos minoritários de pessoas no Brasil, exigindo uma intervenção militar para governar o país. No total de seus componentes, esse grupo se destaca pelo ódio ao PT, ao Lula e todas as políticas que preveem programas populares e sociais em suas gestões.

Outra característica é a crença geral de que essa corrupção foi criada pelo PT, que militar não é corrupto e que nenhum general ficou rico na ditadura militar. Apesar do grande equívoco destas opiniões, é muito difícil fazer com que essas pessoas mudem suas opiniões, mesmo à partir de fatos concretos.

Também é destaque o fato de que o perfil social destas pessoas são em sua maioria jovens e de meia idade, de classe média média e alta e conhecem muito pouco sobre o seu próprio país e sua história. Nesses grupos existem núcleos organizados que nutrem ódio pelos negros, nordestinos, judeus, gays e movimentos feministas, caracterizando assim sua identidade fascista e excludente.

Com a derrota da oposição ao governo Dilma, capitaneada pelo PSDB, partido que se recusou a descer do palanque após o pleito, esses grupos minoritários e fascistas foram usados por esta mesma oposição para irem as ruas e desestabilizarem o Governo Dilma.

Somando-se a tudo isso, com o apoio de grupos corporativos estrangeiros que já estavam de olho na exploração do pré-sal, grupos nacionais que alimentavam a corrupção público/privada desde a ditadura, da plutocracia política/social que sempre mamou nas tetas públicas e da grande imprensa que busca devorar uma grande fatia da verba publicitária bilionária governamental, instalou-se a errada impressão de que a maioria do povo brasileiro queria a queda de Dilma.

Enfim, com a queda de Dilma e a retirada do PT do poder, instalou-se em Brasília então, uma das maiores e mais famigeradas quadrilhas do poder público que até então ouvimos falar. 

Quadrilha que vem desmontando toda a indústria nacional, empresas públicas de sucesso mundial, entregando as riquezas naturais de que dispomos, entregando setores altamente estratégicos para o Brasil, como a Eletronuclear, a Eletrobrás, a Petrobrás, o pré-sal, a exploração de cobre na Amazônia reservada, entre outros muitos setores que sempre estiveram sob a mira cobiçosa do capital privado nacional e estrangeiro desde o regime militar.

E é por essas e outras que, tendo eu servido 5 anos na Força Aérea Brasileira, no final dos anos de chumbo, e já sabendo de fatos consideráveis que ocorriam dentro da caserna, pretendo com esse texto desmistificar as crenças mais faladas sobre a ditadura militar.

GENERAIS DA DITADURA ERAM HONESTOS E MORRERAM POBRES?

Dissemina-se nas redes sociais que os generais presidentes do Brasil (Castelo Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo), morreram pobres. E os factoides geralmente terminam assim: “ (…), os cinco generais-presidentes até podem ter cometido erros, mas não se meteram em negócios escusos, não enriqueceram nem receberam benesses de empreiteiras beneficiadas durante seus governos. Sequer criaram institutos destinados a preservar seus documentos ou agenciar contratos para consultorias e palestras regiamente remuneradas. ”

Generais não morrem pobres, há uma certa ingenuidade acreditar que autoridades de alto escalão morrem pobres. Além disso, consultoria e palestras de ex-governantes é uma prática consolidada na democracia e não em ditaduras.

Não há denúncias diretas contra eles, simplesmente porque, se alguém denunciasse, se houvesse uma operação lavajato ou procuradores fazendo política, seriam simplesmente torturados e mortos.

O general Geisel, por exemplo, era magnata do ramo petroquímico, manteve sua influência sobre o exército brasileiro até a década de 80, além de colocar seus dois irmãos (Henrique e Orlando Geisel), menos capacitados, também para serem generais, este último conseguindo ser ministro do exército por influência do irmão famoso.

O general Médici assumiu a presidência do Brasil em 1969, sendo considerado um dos governos mais duros e sanguinários, veio de família muito rica no Rio Grande do Sul, cujo patrimônio aumentou depois de sua entrada na presidência.

Figueiredo saiu da presidência sendo proprietário de fazendas no RGS e várias propriedades na região serrana do Rio, assim como os outros.

Mesmo sem denúncias diretas basta lermos a respeito das denúncias de corrupção nessa época em cada gestão destes generais. O paralelo se torna óbvio.

A CORRUPÇÃO DO REGIME DITATORIAL

O Brasil tem como cultura já de formação, a corrupção. E que já vem desde a infância do brasileiro, em vários ítens considerados inocentes. A corrupção no Brasil já vem muito antes do regime militar, desde as colônias e a independência. 

Mas a corrupção que explodiu no ventilador da operação lavajato, caracterizada pela forte promiscuidade público-privada é um legado dos governos militares essencialmente no modelo que vemos hoje.

Não foi o PT ou o PSDB que criaram essa corrupção quando assumiram o poder. Ela é muita mais intrínseca, mais visceral e que há quase 60 anos existe e se alimenta no âmago da máquina pública.

Essa máquina de hoje é tão contaminada por esse legado de corrupção que em tese torna-se quase impossível eliminá-la, tendo que talvez recomeçar tudo do zero.

Quando os militares assumiram o poder, as patentes de primeiro, segundo e terceiro escalão foram tomando conta dos diversos setores do estado e das empresas estatais, e por causa disto a corrupção nestes anos de chumbo era infinitamente superior.

Superior porquê? Porque diferente de hoje, a mídia não podia se manifestar, as polícias não podiam investigar e os órgãos fiscalizadores eram apenas decorativos. Portanto a festa da corrupção era a todo vapor. 

O jornalista e escritor J. Carlos de Assis escreveu três livros, no final da Ditadura Militar, em 1984, mostrando os escândalos desse período. “A chave do tesouro”, “Os mandarins da república” e “A dupla face da corrupção”.

O mais famoso, “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/83”, revela em alguns capítulos: Caso Halles, Caso BUC, Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla, Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin, Caso TAA. Cada “Caso” é um capítulo detalhando esses escândalos financeiros, que trouxeram prejuízos inimagináveis à economia daquela época!

Não a toa o “milagre brasileiro” foi uma farsa econômica total como mostrou-se tragicamente depois. 

No segundo livro, “A dupla face da Corrupção”, também em 1984, J. Carlos de Assis revela: “A censura (sic) da era Médici manteve o submundo da economia tão longe da curiosidade pública como as masmorras sombrias da repressão política. (,,,) Esta era uma atmosfera particularmente favorável ao apaniguamento (sic) e à proteção econômica e administrativa dos amigos do regime (…) Foi à sombra desse período obscurantista que a maioria dos arrivistas e aventureiros do mercado, esgueirando-se por essas omissões originais da lei ou pelos espaços abertos por sua deformação propositada (sic), penetrou no sistema financeiro e nele engordou seus conglomerados fraudulentos (sic), para explodir posteriormente em escândalos”, acrescentando: “Vários grupos de aventureiros e de gangsteres de gravata (sic) foram postos na engorda junto aos cofres públicos (sic), com total contemporização e cumplicidade da autoridade administrativa”.

João Assis escreveu essas palavras ainda em 1984, corajoso, ainda sob os últimos estertores do regime, sem imaginar o quanto em 2017 suas palavras tornar-se-iam atuais e tragicamente comprovadas.

E não à toa, empresas como a Odebrecht, OAS e outras envolvidas e protagonistas dos escândalos da operação lavajato, nasceram, germinaram no regime militar, e desde então vem sem descanso corrompendo governos, políticos e a máquina pública.

O próprio General Geisel declarou publicamente para justificar a abertura política, que estava na hora dos militares entregarem o poder, por causa da enorme corrupção que grassava a máquina pública, sob o poder deles.

Os nostálgicos da ditadura, tanto os oportunistas quanto os desavisados de hoje, gostam de dizer que “no tempo dos militares não havia corrupção”. Não só havia uma corrupção desenfreada cujo legado nos levou até as denúncias de hoje, mas como também havia censura, muitos escândalos sequer chegavam aos jornais. Mas alguns foram publicados por jornais que não podiam ser acusados de “subversivos” ou “comunistas”. Alguns deles até tinham apoiado o golpe militar.

CONSEQUÊNCIAS DA DITADURA

E quem pede intervenção militar, se depois de ler este texto não procurar informar-se melhor e entender a realidade desse regime, então poderá sofrer coisas pior do que a insegurança, violência e corrupção atuais.

Sofrerá a falta de transparência, não poderá expressar-se e nem fazer denúncia de tipo algum. Terá de aguentar uma ditadura corrupta, porque todas as ditaduras são corruptas. Isso já está implícito em sua própria natureza.

Sintetizando: Além de inseguro, viverá preso e amordaçado.

Aos generais Mourão, Heleno e Villas-Boas, digo que observem e escutem o povo brasileiro. As pesquisas dizem ininterruptamente todos os dias qual é o nome escolhido pelo povo para governa-los. Com as bênçãos populares, esse nome é o único que trará a paz institucional, política e econômica para o Brasil.

Só poderá governar o Brasil em paz, um governante que seja legitimado pelo povo.

Os tempos são outros.