CARTA AS MULHERES E AOS HOMENS. A HIPOCRISIA EMPODERADA NO 8 DE MARÇO.


Ontem a noite, fui cobrado no meio do meu sono por não desejar Feliz Dia das Mulheres ou até mesmo durante o dia, por não ter publicado nenhuma homenagem no meu face.

A questão para mim é simples. Homenageio as mulheres todos os dias, as que merecem, nem todas são dignas de que ao menos pronuncie-se o nome de Mulher com M maiúsculo.

Me recuso a fazer parte da idiotice mundial que domina as pessoas, domina a mídia quando se refere a esta data. No Brasil a hipocrisia reina, porque a maior parte dos homens que distribuíram cartões e frases homenageando a mulher pelo seu dia nas redes sociais, agridem suas mulheres, ofenderam e desejaram a morte de Dilma Rousseff, se congratularam pela morte de Marisa Letícia, agridem e ofendem mulheres de todas as raças e classes nas redes sociais,  e ainda incluo entre estes, bom número de mulheres que não perceberam que estão depondo contra si mesmas.

Mesmo recusando a fazer parte deste circo, aproveito o ensejo da cobrança a que fui submetido e escrevo uma carta aberta a todas as mulheres e homens deste Brasil para que reflitamos sobre o tal Dia Internacional das Mulheres. Vamos falar de nossa realidade brasileira.

Comemorar e felicitar sobre o quê mesmo?

Dados do Datafolha sobre a violência contra a mulher em 2016
A cada hora, 503 mulheres sofreram algum tipo de agressão física em 2016, segundo pesquisa do instituto Datafolha encomendada pelo Fórum de Segurança Pública, 9% da população acima de 16 anos relataram ter sido vítimas de socos, chutes, empurrões ou outra forma de violência.

As agressões verbais e morais, como xingamentos e humilhações, atingiram 22% da população feminina. Ao longo do ano passado, 29% das mulheres passaram por algum tipo de violência, física ou moral. Entre as pretas (expressão usada pelo IBGE), o índice sobe para 32,5% e chega a 45% entre as jovens (de 16 a 24 anos).

Foram vítimas de ameaças com armas de fogo ou com facas 4% - 1,9 milhão de mulheres. Espancamentos e estrangulamentos vitimaram 3%, o que representa 1,4 milhão de mulheres, enquanto 257 mil, 1% do total, chegaram a ser baleadas.

A cada três brasileiros, incluídos homens e mulheres, dois presenciaram algum tipo de agressão a mulheres em 2016, desde violência física direta, a assédio, ameaças e humilhações. O percentual é de 73% entre as pessoas pretas e 60% entre as brancas.

O tal “empoderamento”
Ontem passei na Lagoa, centro de João Pessoa e vi uma mulher esbravejando belicosamente no microfone, em mais um evento hipócrita promovido pela prefeitura de João Pessoa, de que “não podíamos mais tolerar isso”, e que o “empoderamento das mulheres” etc. etc...

O tal discurso do empoderamento que vejo em todas as ações ditas feministas tanto aqui na Paraíba quanto no resto do Brasil. E percebi que muitas mulheres quando falam em empoderamento não sabem o real significado, mas interpretam mesmo como tomada do poder.

Mas afinal, o que realmente significa esta palavra?

No portal “Significados” diz assim: - “Empoderamento é a ação social coletiva de participar de debates que visam potencializar a conscientização civil sobre os direitos sociais e civis.
Esta consciência possibilita a aquisição da emancipação individual e também da consciência coletiva necessária para a superação da dependência social e dominação política. ” – Portanto esse conceito evoca uma luta conjunta, coletiva e não apenas de uma classe, categoria ou um tipo de “minoria”, que nesse caso é um eufemismo que beira o absurdo.

O que são machismo e feminismo?
No conceito machista se crê num "sistema hierárquico" de gêneros, onde o masculino está sempre em posição superior ao que é feminino. Ou seja, o machismo é a ideia errônea de que os homens são "superiores" às mulheres.

No conceito feminista, em tese, se prega a busca da igualdade de direitos entre homens e mulheres. Mas na prática disseminada do século XXI, o feminismo em sua maioria expressa-se de modo radical e está contaminado pelo femismo, que por sua vez, pode ser considerado o sinônimo do machismo (ao mesmo tempo que é seu oposto), pois trata-se de uma ideologia de superioridade da mulher sobre o homem. O femismo, assim como o machismo, prega a construção de uma sociedade hierarquizada a partir do gênero sexual; baseada em um regime matriarcal.

Faca de dois gumes
Em síntese, correndo o risco de provocar a ira femisma, digo que o discurso de empoderamento da mulher, perdeu na prática o foco de luta coletiva, tornando-se sim, uma guerra de classes, melhor dizendo, uma guerra sexista em que não se compartilha, mas disputa-se um espaço de poder.

Não estou aqui para desqualificar o feminismo no Brasil, muito pelo contrário, para defende-lo em sua origem, pureza de ideais e pedindo que seja aceita dos dois lados, a participação do homens nesta luta. É uma faca de dois gumes recusar que os homens sejam parceiros nesta luta.

É preciso lembrar que o movimento feminista no Brasil começou a tomar corpo no começo do século XX, mais precisamente entre as décadas de 1930 e 1940. A estrutura familiar e social do brasileiro era totalmente construída sobre a figura do homem; um regime patriarcal. O feminismo no país surgiu, assim como em outros cantos do mundo, como uma tentativa de inserir a mulher brasileira na sociedade, dando voz e expressão às suas necessidades.

E conseguiu muitas conquistas. E devo lembrar que muitos homens de expressão histórica e pela história tiveram participação efetiva nestas conquistas. 

E quem negar isso eu provo...

E é absolutamente necessário, que depois de quase um século de luta, se faça uma autocrítica interna, real, verdadeira, à partir de suas vísceras, crítica que vai do coletivo ao individual. Partindo de questões políticas e sociais que permeiam e interferem na vida do cidadão e cidadã publicamente, como também no dia a dia doméstico em família.

E para o sucesso definitivo destes anseios, desejos e conquistas, é preciso que o homem participe desta luta convicto que está apoiando e lutando pela mais nobre das causas. A luta feminista no Brasil e no mundo não terá sucesso se o homem estiver fora do processo.

É dar murro em ponta de faca sustentar movimentos que se dizem feministas e  que alimentam a eterna disputa entre homens e mulheres em prol de sobrevivências individuais e benefícios próprios. Muitos destes movimentos hoje, não só no Brasil, mas no mundo, são meros cabides de empregos.

Escuto discursos de “feministas” indignadas quando eu digo a elas que o homem tem que participar do processo ativamente. Elas reagem afirmando que até numa luta exclusiva das mulheres, queremos interferir e continuar mantendo-as dependentes dos homens neste processo.

Cegueira total.

Homens esclarecidos, nos quais eu meu incluo, não querem mulheres dependentes de si mesmos. O machismo para nós é um peso depressivo e queremos nos livrar disso, além de que grande parte das mulheres são machistas e gostam disto.

E aos homens que não são esclarecidos, bem formados ou informados, que são machistas por nascença, culturalmente, será impossível esclarece-los e liberta-los destas amarras, se nós os homens de mais visão não estivermos com as mulheres feministas nesta luta.

Depois da Lei Maria da Penha, a violência em vez de diminuir aumentou, por causa da própria realidade da punição, o que torna os homens violentos mais raivosos ainda. Mesmo assim, essa lei é fundamental e tem que existir, porque pelo menos agora toda violência contra mulher tem a punição que merece. Pelo menos em tese, mas temos visto sim, a lei aplicar a devida e rápida prisão e punição na maioria dos casos.

Mas se os homens que apoiam a causa feminista estão excluídos do ativismo e do processo de luta, então não podem contribuir para a conscientização de outros homens, não podem concretizar é um trabalho de apoio a causa das mulheres, e que claramente tornou-se muito mais necessário depois que Lei Maria da Penha foi implantada.

Também tem as mulheres que mostram suas convicções que vão contra si mesmas. Muitas mulheres que se dizem feministas na verdade são machistas ou feministas de conveniência. Um feminismo distorcido. Não deixam que homens lhes digam o que fazer, mas querem ser bancadas e sustentadas por eles sem questionamentos. Assim até eu quero ser essa mulher.

E a mães? O que fazem para educar seus filhos contra a violência doméstica?

Todos os agressores e assassinos de mulheres tem mães. Foram criados por uma mulher.

Porque não foram educados a respeitar as mulheres e a não agredi-las? 

Minha mãe, por exemplo, um exemplo de mulher lutadora e que quando jovem, esteve a frente do seu tempo, tinha tanto ciúmes dos seus filhos homens, que vivia a depreciar as mulheres e seu caráter para que não nos aproximássemos delas. Eu vivi isso. Graças as Deus não sou agressor de mulheres por causa disto, mas isso é uma gota no oceano.

É preciso educar de berço. Não vejo os movimentos feministas trabalharem para inserir esse conceito nos seios das famílias brasileiras, conscientizando as mães, aquelas que são omissas, ausentes e que passam a mão na cabeças dos filhos quando cometem erros, e também aquelas que nomeamos popularmente como “mães judias”, que são dominadoras e manipuladoras de seus filhos.

O problema é que muito do discurso e prática “feminista” de hoje, (que está mais para femisma) não valoriza a família. O que faz com que esse trabalho de conscientização acaba ficando restrito as psicólogas e  a escola que está em boa parte ineficiente neste quesito. O pior é quando a delegada da delegacia da mulher tem que conscientizar e agir em defesa, porque aí é quando já chega com as consequências da violência mostrando seus resultados.

Então como inserir a conscientização feminista em sua essência as mães, filhas, em suma, na família, se o movimento não se insere no dia a dia familiar?

E quando dizemos famílias, falamos em homens também. Ou seja, maridos e filhos tem que participar, tem que assimilar, aprender, entender e compreender o verdadeiro e ideal papel das mulheres em nossa sociedade.

Sem isso, fica difícil para mim, crer que algumas lideranças feministas que se dizem representantes da classe e aparecem somente em eventos do Dia da Mulheres igual a político em dia de eleição, para berrarem aos microfones, “guerra aos homens”, realmente estão interessadas em chegar a uma definição final e satisfatória no que se refere as conquistas feministas de macro e de micro porte e principalmente, eliminar a violência contra a mulher.

Homem tem que participar da luta feminista. Homem tem que ser feminista, sem deixar de ser masculino. Mulher tem que ser feminista sem deixar de ser feminina.

Sem isso, não mandarei jamais cartões e mensagens no Dia Internacional da Mulher, porque é somente uma data comemorativa e não há muito do que comemorar em quase um século de lutas.

Não exercerei a hipocrisia, me recuso.

Homens e Mulheres tem que andar e lutar juntos, mesmo que separados, exercerem direitos iguais, exercerem diferenças naturais e intelectuais com respeito e admiração, conquistarem justiça social para todos, qualidade de vida para todos.

Isso só se consegue com União. A desunião é objetivo das elites dominantes que separam para continuarem dominantes. Entre eles não há essa desigualdade. Esses homens e mulheres são igualmente ricos e juntos exploram o povo.

O Dia da Mulher a meu ver é todo dia, um dia só é pouco. Porque todo dia temos de galgar degraus, conquistar algo e comemorarmos pontualmente essas conquistas.

E o homem da classe média tem que estar de mãos dadas nesta luta, participar ativamente deste processo, porque estes são os que mudarão a opinião dos homens de outras classes sociais, acima ou abaixo, pelo diálogo ou pela força.

Melhor o diálogo de que a força, mas revolução se faz nas duas formas, juntas ou não, se for necessário.

Todos os dias.