Após quase 40 anos, garoto-propaganda recordista da TV é dispensado

Carlos Moreno em entrevista no programa The Noite em 2016; ator é famoso por comerciais


FERNANDA LOPES
De 1978 a 2016, Carlos Moreno teve "mil e uma utilidades" na TV. Garoto-propaganda recordista na publicidade mundial, ele marcou época e é conhecido até hoje como ícone da Bombril, marca de produtos de limpeza. Desde o ano passado, no entanto, Moreno, de 63 anos, não faz mais parte das campanhas da empresa. Após ser substituído por Dani Calabresa, Monica Iozzi e Ivete Sangalo em algumas campanhas, ele terminou sua longínqua parceria com a marca.

"O contrato estava para acabar e a Bombril passava por uma situação complicada. Fizeram cortes bem malucos em toda a empresa, inclusive na área de publicidade. Até me fizeram uma proposta de renovação, mas era meio absurda. Então chegamos num consenso: já que não estava sendo aproveitado, não tinha nenhuma perspectiva de trabalhar, não fazia sentido eu continuar contratado. No futuro, se tiver interesse, a gente volta a trabalhar junto com o maior prazer", conta.


A trajetória de Moreno como garoto-propaganda começou em 1977, quando fez teste e foi contratado por Washington Olivetto para interpretar um funcionário (com jeito de cientista) da marca de esponjas de aço e aconselhar a dona de casa consumidora nos comerciais.

A primeira campanha foi ao ar em 1978, e o ator teve contrato ininterrupto até 2004. Ele ficou afastado da empresa até 2007, quando voltou a fazer as propagandas. Moreno estima que tenha feito quase 400 comerciais em todo o período, além de muita publicidade para mídia impressa. Segundo o Guinness Book, Moreno é desde 1994 o garoto-propaganda de maior tempo de permanência no ar.

"Não tinha muito uma periodicidade, eu ia a cada três meses no estúdio e fazia campanhas. Nunca fiz aquelas loucuras do Fabiano [Augusto, das Casas Bahia], mas às vezes a gente gravava quatro ou cinco filmes numa diária. Em 1998, 1999, a gente praticamente não fez filme, só fazia foto. Toda semana tinha uma foto nova para fazer, eram sempre baseadas em alguma personalidade, algum acontecimento da semana", lembra.


Carlos Moreno em duas caracterizações: Ana Maria Braga em 1999 e Papa Bento 16 em 2007

Em 2013, a comunicação da marca mudou: em vez de Moreno, a Bombril colocou na tradicional bancada de seus comerciais Dani Calabresa, Monica Iozzi e Ivete Sangalo para falarem de forma bem-humorada sobre a evolução da mulher e dos produtos (com leve deboche sobre os homens). O ator foi deixado no “banco de reservas”.

"Não vou negar que fiquei chateado, eu adorava fazer o trabalho. Mas era uma proposta da empresa de mudar a comunicação, então eu tive que aceitar. Depois, quando tive a chance de trabalhar com elas, adorei as três, me diverti bastante. Eu entendo que nada é eterno. A vida inteira fui consciente de que as campanhas terminariam. Passei o bastão para as meninas e elas trabalharam lindamente", afirma.

Com tantos anos na publicidade, Moreno nunca fez novelas ou séries _seu trabalho mais marcante na TV foi o personagem Euclides no infantil Rá-Tim-Bum, da Cultura. Ator de teatro, ele afirma que se sente mais à vontade nesse meio, que conhece melhor e tem a possibilidade de produzir suas próprias peças.

Nos últimos anos, Moreno ficou em cartaz com o espetáculo Florilégio Musical e pretende, ao lado da atriz Mira Haar (de Mundo da Lua, 1991), dar continuidade a essa história. O ator está no ar atualmente em uma campanha de uma ótica, mas confessa que sente saudades de seu auge como garoto-propaganda.

"Eu sinto saudades, sinto mesmo. É um trabalho que eu tenho muito orgulho de ter feito, foi um marco. Tenho um patrimônio que é esse personagem que eu fiz, que sempre foi rodeado por muitos cuidados, é um trunfo que eu tenho. Pretendo fazer publicidade enquanto puder, desde que tenha um texto legal e tenha qualidade", discursa.


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