O grampo em Mercadante, apenas para marolas políticas


Luís Nassif - JornalGGN

A única informação relevante do grampo em cima do Ministro Aloizio Mercadante – divulgado pela revista Veja – é que a operação provavelmente foi planejada para consubstanciar a delação para a  Procuradoria Geral da República. E segue o mesmo padrão adotado pela Lava Jato no caso do grampo aplicado em Delcídio do Amaral pelo filho de Nestor Cerveró, de pegadinhas visando capturar alguma declaração comprometedora.
Robustece nossa hipótese de se implantou definitivamente o estado policial no país.
Pelo conteúdo revelado, há nítida intenção de criar fato político, já que não há um elemento sequer que possa ensejar ações judiciais. Recorre-se ao padrão usual adotado em grampos, que é o das pegadinhas nas perguntas e de procurar sentidos definitivos em conversas informais, em geral retiradas do contexto.
Como, desta vez, divulgou-se a conversa completa, dá para entender o contexto.
Vamos aos trechos "interpretados" pela revista (com matéria neste link):

Ajuda financeira

O único trecho que pode induzir a essa interpretação é um, no qual Marzagão fala das dificuldades financeiras enfrentadas pela família de Delcídio. Mercadante responde vagamente, acenando com uma eventual ajuda com advogados.
AM - Bom, isso aí também a gente pode ver no que é que a gente pode ajudar, na coisa de advogado, essa coisa. Não sei. Pô, Marzagão, você tem que dizer no que é que eu possa ajudar. Eu só to aqui pra ajudar. Veja o que que eu posso ajudar.

 Ajuda política

É uma conversa na qual Mercadante critica a ingratidão do PT com Delcídio e sugere estratégias políticas para o Senado. Tudo vago, como a tal moção da mesa do Senado ao Ministro Teori Zavascki para relaxar o flagrante. E "tentar construir com o Senado uma saída". 
AM - Não pode aceitar isso. Eu acho que se a gente não for pelo jurídico, pelo político, pelo bom senso e deixar tudo pra ele que tá acuado, fodido, a família desestruturada, vai sair só bateção de cabeça. Porque eu posso tentar ajudar nisso aí no Senado. Vou tentar conversar com o Renan e ponderar a ele de construir uma, entendeu, uma moção

 Ajuda jurídica

Meramente analisa possibilidades jurídicas para relaxar a prisão de Delcídio.
AM - Não, não, mas o presidente vai ficar no exercício... também precisa conversar com o Lewandowsky. Eu posso falar com ele pra ver se a gente encontra uma saída. Mas eu vou falar com o ministro no Supremo também.

Estratégia de defesa

Trocam ideias sobre a estratégia de defesa com  Marcadante lembrando que Renan está acuado e mostrando que a defesa de Delcídio é questão institucional.
AM - Eu não sei, o que eu vou... o que eu me disponho...como eu te falei. Olha, eu não quero me envolver mais do que posso. Faço isso por absoluta solidariedade. Acho que o que o PT fez é indigno e acho que o Senado não devia ter recuado.
JEM - É. Mas nem só por causa dele.
AM - Não... é institucional, gente.

A estratégia do medo

 Aqui se mostra como a Lava Jato quebra a moral do réu para obter a delação. Mercadante mostra quais são suas providências. 
AM - eu vou conversar com alguns advogados que eu confio. Acho que vou chamar o Bruno Dantas pra conversar, que foi advogado-geral da União muito tempo... do Senado, ou algum consultor do Senado que pense juridicamente se o Senado tem alguma providência pra interferir. Inclusive alegar o seguinte: nós queremos que ele se defenda, de um processo aqui pi, pi, pi…
JEM - Sim. Normal.
AM - E crie qualquer porra de um argumento contanto que ele não fique lá preso, acuado desse jeito.
JEM - Que fique em casa com tornozeleira, que fique num quartel do Exército, o caralho que seja, mas lá é...
AM - É ruim. Quando ele fala do risco da delação, hoje o advogado desmentiu. Fica um negócio assim: Parece que ele tá fazendo porque tá com medo, entendeu? Porque não tinha essa pauta...
JEM - O problema é o seguinte: é que ele tá desestruturado. Então, alguém tá colocando pra ele que essa é a única maneira de ele sair de lá.

Solidariedade do governo

Nesse trecho, falam sobre o estado de espírito de Delcídio, de sua família. O diálogo mostra o erro de Ruy Falcão, presidente do PT, jogando Delcídio ao mar.
AM -  O que eu acho que ele está precisando agora é algum tipo de apoio e solidariedade pessoal e político. Então, você veja o que eu posso ajudar. 'Se você achar, Mercadante, era bom você ir no Mato Grosso do Sul falar com as filhas dele.' Eu não vou me meter na defesa dele. Não sou advogado, não tenho o que fazer, não sei do que se trata, não conheço o que foi feito.
JEM - Mas o que o Rui fez, queimou qualquer possibilidade.
AM - Foi um absurdo. Eu dentro, vou tentar ajudar no que eu posso. Dentro do governo, dentro do partido menos, porque eu não tenho muitas relações hoje. Mas vou tentar porque achei um absurdo. Eu quero ajudar no que eu puder. Só vou fazer o que eu puder.

O busílis da questão 

Finalmente, o ponto central, a maneira como Dilma se eximiu de todos os atropelos da Lava Jato para pensar apenas em sua situação pessoal. Foi essa atitude que ajudou a quebrar definitivamente a solidariedade entre as partes envolvidas.
JEM -  No dia do acontecido, ligou o Renan e o Sarney para a Maika. Mais nada. E disseram barbaridades, chamaram a presidente de filha da puta.