Excelências torram nossa grana em bocas livres
Ricardo Kotscho
Nem era para espantar mais ninguém, já que virou rotina, mas acho que Vossas
Excelências andam exagerando, sem dar a menor bola para a torcida, quer dizer,
nós, como diria o Heródoto Barbeiro.
"Congresso banca `hábito gourmet´ dos parlamentares",
denuncia o título da página A10 do Estadão deste domingo sobre as despesas com
bocas-livres patrocinadas por parlamentares em que eles torram a nossa grana
sem dó nem piedade.
O jornal ilustra a matéria com a reprodução da nota fiscal
221515 do restaurante "Porcão", de Brasília, o preferido dos
políticos que não se importam com o valor da conta, emitida em nome do senador
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Valor: R$ 7.567,60, ou seja, mais de dez salários mínimos. Na
parte de "descriminação das mercadorias" encontra-se uma singela
informação: "Refeições". Não diz nem quantas foram servidas porque
isso, certamente, não interessa a ninguém,.
Pois ato publicado pelo Senado em 2010 determina que, para
receber o ressarcimento dos gastos, os parlamentares devem apresentar
"nota fiscal, datada, e com a completa descriminação da despesa".
A boca-livre com dinheiro público foi oferecida pelo senador,
após uma homenagem a seu pai, o ex-parlamentar e ex-governador da Paraíba
Ronaldo Cunha Lima, que ficou famoso por ter disparado três tiros contra o seu
antecessor Tarcísio Burity, em um restaurante de João Pessoa, sem nunca ter
sido condenado, como relatam os repórteres Bernardo Caram e Andreza Matais.
Os gostos e os gastos variam. O ex-presidente e senador Fernando
Collor, por exemplo, que aprecia comida japonesa, apresentou três notas do
restaurante Kishimoto, cada uma no valor de R$ 1 mil. A liderança do PDSDB na
Câmara prefere os frutos do mar do restaurante Coco Bambu. Só este ano, as
excelências tucanas já apresentaram 14 notas deste restaurante com valores
entre RS 1.280 e R$ 2.950, num total de quase R$ 27 mil.
E por aí vai. A farra não tem fim nem limite. A assessoria do
senador Cunha Lima informou apenas que o jantar contou com a presença de
"autoridades e parlamentares", o que muito nos honra, claro, pois
assim foi um dinheiro bem gasto. E o gabinete informou ainda aos repórteres que
"o senador é extremamente criterioso com os gastos".
Podemos imaginar o que seria se assim não fosse...