O DIPLOMA DE JORNALISMO

Um dos temas mais polêmicos da comunicação ultimamente tem sido a decisão do Supremo Tribunal Federal que decretou a não-obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalismo. Muitos sindicatos, jornalistas e profissionais de outras categorias foram às ruas, Internet e a televisão protestar.


Mas a coisa não é tão simples assim. Em praticamente todas as redações, grandes e pequenas atuam como jornalistas, indivíduos sem formação. A maioria nasceu e cresceu no jornalismo, desenvolvendo assim um talento e experiência que em praticamente 100% dos casos a universidade não proporciona. Isso também é grave e talvez eu queira levar por esse prisma o foco desta discussão.

Conheço pessoas mais velhas, amigas da família que nunca fizeram o curso de jornalismo, mas um deles por exemplo entrevistou Getúlio, outro estava registrando a revolta dos marinheiros no Governo de Jango e outro ainda, acompanhou os tanques pelas ruas de Copacabana no fatídico golpe de 64. O que dizer? São considerados grandes jornalistas, e vai mais longe. Irônicamente são referências de estudo e pesquisa em faculdades de jornalismo que nunca adentraram antes. É claro que muitos vão dizer: "Mas isso se justifica , não havia faculdade de jornalismo na época."

Não, porque hoje nas redações existem grandes jornalistas sem formação acadêmica. Isso mesmo, acadêmica, porque alguém que é criado como rato de redação, tem sua formação sim, talvez até mais sólida, porque é uma formação totalmente prática.

Uma coisa é certa, com esta decisão do Supremo, muitas empresas jornalísticas puderam finalmente regularizar o registro desses profissionais.

Mas... atentem! Não vou defender aqui a eliminação do diploma para ser jornalista, e muito menos a obrigatoriedade deste. O que eu quero defender com convicção é a educação acima de tudo. Independente de diploma de jornalismo.

É preciso deixar claro que o jornalismo por si só é uma profissão incompleta. mesmo dentro de uma universidade. Na área de publicidade, o indivíduo se especializa em redação ou mídia, ou arte, ou atendimento. Ele nunca faz as 4 coisas ao mesmo tempo. Por isso também digo que no jornalismo não podemos cobrir todos os assuntos. Por exemplo: Nos Estados Unidos, não é exigido o diploma de jornalista, mas é exigido uma especialização de nível superior. O cara pode ser antropólogo, filósofo, economista, advogado, até mesmo médico, por aí vai...

O repórter que sempre cobriu esportes tem a mesma capacidade de cobrir Economia? Não, com certeza seria melhor este jornalista ter boa informação sobre economia, melhor ainda se for um economista. Ex. Joelmir Beting.

Se a categoria enfrenta esses problemas agora, sendo entre aspas, "desvalorizada", foi porque de certa forma a metodologia educacional falhou dentro da faculdade de Jornalismo. A própria universidade não se impôs. O Jornalista se acha hoje um poder, o famoso quarto poder. As vezes é, mas somente as vezes. É arrogante e fala muita besteira em áreas em que não são especialistas, e se bobear, ainda também escorrega na que seria a priori, sua área de domínio.

A grande contradição do Supremo Tribunal Federal está em achar que os jornalistas podem ser facilmente substituídos por pessoas sem formação. Não é nada disso. A saída deste problema não está na negação aos estudos, e sim no investimento que se faz nele. Portanto se aplique o que se faz nos Estados Unidos e Europa.

Nestes países, todo jornalista precisa buscar sua especialização. Por isso se o diploma de jornalismo voltar para as exigências do emprego nas redações, sugiro que dentro da faculdade, exista disciplinas de outras áreas para que o profissional saia resolvido com suas escolhas e especializações. Será melhor um profissonal mais preparado, e ainda a categoria se fortalece. Porque o aprendizado que eu tiro do que houve no Supremo em sua decisão a respeito, foi a falta de uma categoria fortalecida e preparada para enfrentar esta situação. Isso claramente foi mostrado, e mais ainda, foi mostrado que não houve esta preparação dentro da faculdade de jornalismo.

A prática diária no jornalismo é fundamental, mas fica melhor ainda com a teoria. Com a pesquisa. Por isso recomento que façam jornalismo, mesmo sem a exigência do diploma, por que isso fará a diferença no seu currículo e claro, se você for preso numa manifestação pela polícia terá direito a cela especial. Isso evita muitos dissabores...

2 comentários :

  1. Parabéns Eliseu Mariotti por este seu blog para publicação de notícias e análises dessa riquíssima área. De todos os comentários a que tive acesso a respeito da controvertida decisão, o seu é o mais completo, com equilíbrio e, portanto, mais esclarecedor.
    Paulo José - Florianópolis

    ResponderExcluir
  2. Agradeço o apoio e seja bem vindo. É um prazer tê-lo aqui

    ResponderExcluir